Crítica sobre o filme "Libertino, O":

Rubens Ewald Filho
Libertino, O Por Rubens Ewald Filho
| Data: 06/10/2006

Logo no começo do filme o herói John Wilmot, Conde de Rochester (1647-80) fala para o espectador: “Você não irá gostar de mim. Não gostará agora e vai ficar ainda pior ao final †. E tem toda razão. Este filme é tão desagradável, tão esquisito, que se chega a pensar que o notoriamente excêntrico Johnny Depp tenha querido realiza-lo justamente para sujar sua imagem hoje de fofinho que adquiriu com Piratas do Caribe. Mas tem outro fator importante: eles não conseguiram dinheiro para realizar essa cara produção de época e por causa disso recorreram ao velho recurso do gelo seco, da fumaça que agora encobre e disfarça tudo. Não por opção estética, mas econômica.

É inspirado em personagem real da Inglaterra do século 17, que havia sido feita em Chicago com o famoso grupo Steppenwolf estrelado por Malkovich e Martha Plimpton (Malkovich ficou aqui com o papel mais secundário do Rei Charles II, que faz de sua habitual forma sinistra). E que protege o libertino (embora seja mais lembrado por ter perdido que mulheres também representassem no palco como Elizabeth Barry vivida por Samantha Morton). Embora fosse um poeta de razoável qualidade e reputação, o texto se fixa no que ele tinha de pior, centrando-se na sua decadência e vida debochada que o levou a uma morte prematura aos 33 anos vitima da sífilis e alcoolismo. As doenças venéreas roeram seu nariz e ele freqüentava o parlamento usando um nariz de prata. Ou seja, uma figura tão repulsiva (Roger Ebert fez uma piada boa dizendo que não é o caso nem de gostar dele, a gente fica com medo de pegar alguma coisa dele), que nem Depp é capaz de regenerá-lo ou torná-lo palatável. Mais obsessivo que Casanova sexualmente, o filme se fixa não nos primeiros anos onde teve alguma ação em feitos marítimos mas na sua continua decadência. Para meu gosto nem Depp consegue torná-lo curioso ou interessante. Talvez pelo excesso de fumaceira.

Indicado para 8 prêmios no British Independente Film Award, ganhou o de coadjuvante para Rosamund Pike que interpreta Elizabeth Malet, ou seja a mulher do herói. Mas foi fracasso e universalmente desprezado. O diretor Dunmore é estreante.(Rubens Ewald Filho na coluna Classicos de 22 de julho de 2006)