Crítica sobre o filme "Dama na Ãgua, A":

Rubens Ewald Filho
Dama na Ãgua, A Por Rubens Ewald Filho
| Data: 20/01/2007

Há algum tempo o diretor M. Night Shyamalan estava brincando com a sorte, arriscando-se em filmes cada vez menos eficazes e com isso perdendo seu publico. Ele acertou em cheio com O Sexto Sentido (99), que lhe deu indicação ao Oscar® e virou clássico. Depois fez o razoável Corpo Fechado (2000), o ridículo Sinais (2002) e o polemico A Vila (de 2004, a maior parte do público se sentiu enganado com o final surpresa). Foi quando resolveu mudar de tom e fazer um conto de fadas, inspirado numa historia que teria inventado para seus filhos pequenos. Só que o estúdio Disney não gostou e ele se sentiu ofendido (depois de ter feito quatro êxitos para a Disney) e se mudou para a Warner. O problema é que os executivos da Disney estavam certos. Não apenas o filme foi um fracasso total de bilheteria e critica como o diretor Shyamalan cuspiu no prato em que comeu, publicando um livro se fazendo de mártir, como se fosse um artista que foi sacrificado pelo big business.

O fato é que o sucesso lhe subiu a cabeça e Shyamalan deveria ter ouvido os conselhos deles (que recomendavam 1) não colocar como uma das figuras principais um crítico de cinema pretensioso e antipático, que é o único que tem um final trágico comido pelo monstro. Seria uma provocação com os críticos que iriam assistir ao filme. Particularmente achei o personagem divertido (porque ele é daquele que sabem tudo e sempre meio pretensioso, figura que certamente existe dentre a classe. Mas não era preciso realmente matá-lo, ficaria mais divertido inclusive poupá-lo. Esta evidente que Shyamalan queria mais era se vingar dos críticos. 2) não queriam que ele fizesse um dos papéis principais, no caso um escritor que ainda vira a ser famoso e ter importância mundial, ou seja, um personagem altamente pretensioso. Achavam que ele não era suficientemente bom ator para segurar um personagem desses. Outro acerto deles. 3) a Trama é confusa e precisava ser melhor esclarecida. 4) há excesso de personagens e poucos são bem utilizados. 5) não há final surpresa como nas fitas anteriores).

Tudo isso e mais outros problemas. Um dos mais graves é que na Warner ele não deve ter conseguido um orçamento muito grande porque as figuras de fantasia são muito mal realizadas e concebidas, o filme todo na verdade é escuro, com direção de arte discutível e efeitos especiais muito fracos. De fato parece uma besteira a historia de um zelador de prédio (Paul Giamatti) com problemas no passado que descobre que há numa ninfa na piscina do lugar (ela vive no fundo com objetos que recolheu de forma nada convincente).Enfim, essa ninfa chamada Story (Historia) é vivida por Bryce Dallas Howard (a mesma de A Vila) e esta sendo ameaçada por um monstro que tenta matá-la. Tudo é mal explicado já que não se sabe para que serve essa ninfa (a não ser adivinhar algumas coisas do futuro) e a coitada da Bryce tem uma maquiagem infeliz, que a deixa parecida com Mia Farrow depois da enxaqueca. A mitologia narrada por uma condômina coreana inclui uma águia que deveria buscá-la e a participação de um monte de gente numa espécie de boa vontade coletiva (porque eles topam ajudar aquele traste nunca se explica também).

Sinceramente não achei o filme tão abominável. É apenas mal feito, tecnicamente precário, um conto de fadas que não dá certo. Shyamalan paga agora o preço de sua pretensão, do golpe que não deu certo, ninguém acreditou no gênio incompreendido que hoje parece ser mais um vigarista. (Rubens Ewald Filho na coluna Clássicos de 06 de outubro de 2006)

.

.

O cineasta indo-americano M. Night Shyamalan sempre força a passagem da ingenuidade de suas tramas para uma assunção infantil de sua visão de mundo. Dizem seus defensores (como outrora diziam os amantes os amantes do cinema que o norte-americano Steven Spielberg fazia nos anos 70 e 80) que devemos abdicar de uma certa sofisticação adulta para mergulhar na característica primária de seu universo. Talvez. Mas A dama na água (Lady in the water; 2006) é uma narrativa tão boba em sua simbologia de fábula contemporânea que se teme pelo futuro das estruturas de Shyamalan; a coisa meio que desmorona e expõe sua osteoporose  cinematográfica com inegável clarividência ao longo de quase duas horas de ritmo lento, marcadamente contemplativo. Se Shyamalan vai afastar-se do espectador crítico por suas insistências ingênuas e se o público da indústria que ele quer paparicar não tem saco para sua montagem semi-oriental, que lhe sobra?

Shyamalan é esperto. Antevendo os problemas de seu filme, ele põe em cena um casmurro e estereotipado crítico de cinema, estabelecendo assim uma blindagem contra a recepção cinematográfica: o filme basta-se a si mesmo. Irônico e perverso, ele destina a esta personagem odiada por seu criador um final trágico que se engolfa nos símbolos do conto que se está narrando. As criaturas de Paul Giamatti (o zelador de prédio Cleveland) e de Bryce Dallas Howard (a ninfa que assoma da piscina do prédio em busca de um misterioso escritor que estaria escrevendo algo importante) são os elementos que se esforçam por dar algum sentido aos disparates em cena; se em A vila (2004), o mais bem acabado filme do realizador, os mistérios ingênuos da trama tinham algum encanto, em A dama na água o osso fílmico está ruindo.

O misticismo indiano de Shyamalan é algo meio torto e superficial, como se sabe desde O sexto sentido (1999), o máximo de seu charlatanismo; seu suspense, que alguns equipararam equivocadamente ao do inglês Alfred Hitchcock, até que é funcional. É meio complicado descartar uma realização formalmente tão bonita quanto A dama na água; mas, passado o efeito de hipnose que toda projeção de filme tem, que me dá vontade, dá. (Eron Fagundes)