Crítica sobre o filme "Cinema, Aspirinas e Urubus":

Eron Duarte Fagundes
Cinema, Aspirinas e Urubus Por Eron Duarte Fagundes
| Data: 17/02/2007

Cinema, aspirinas e urubus (2005), rodado pelo pernambucano Marcelo Gomes, propõe inicialmente uma narrativa cinematográfica marginal, sem concessões comerciais, uma experimentação visual onde a utilização dos áridos e secos cenários nordestinos fez com que alguns críticos o aproximassem da linguagem crua e esbranquiçada de Vidas secas (1963), de Nelson Pereira dos Santos; mas seu ritmo andarilho e por via de regra dispersivo evoca mais o cinema que o alemão Wim Wenders fez na década de 70 (especialmente Com o passar do tempo, 1976).

Há um alemão em cena na realização de Marcelo: ele é um dos muitos foragidos da guerra nazista que anos 40 aportou no Brasil em busca da vida e fugindo da morte; no sertão nordestino, que ele cruza com seu caminhão, ele vende as aspirinas do título. Em seu caminho, surge um típico nordestino, em linguajar e miséria, ambos começam a trabalhar juntos, ficam amigos e é da matéria desta amizade que o cineasta pretende extrair a verdade de seu filme.

Mas Cinema, aspirinas e urubus, a despeito de receber os favores de muitos analistas a partir de sua premiação em Cannes, não chega a realizar-se plenamente. Sua opção por uma certa dispersão de planos, como nos filmes iniciais de Wenders, torna o conjunto frouxo e sem vigor de linguagem. As boas intenções de Gomes são evidentes e sua inquietação louvável; espera-se que proximamente ele possa ajustar os detalhes para produzir um bom filme. (Eron fagundes)