Crítica sobre o filme "Glória de Meu Pai, A":

Eron Duarte Fagundes
Glória de Meu Pai, A Por Eron Duarte Fagundes
| Data: 16/04/2007
A glória de meu pai (La gloire de mon père; 1990) termina onde O castelo de minha mãe (1990) começa. São dois filmes -irmãos dirigidos pelo francês Yves Robert a partir de dois livros autobiográficos do escritor Marcel Pagnol. A cena final de A glória de meu pai mostra a carruagem da família que parte das férias nas colinas da Provença francesa de volta para a cidade; a face de um garoto, o protagonista e narrador Marcel, visto junto ao vidro da carruagem, se despede daquele cenário que a voz-over diz ser sua pátria. Esta cena vai retornar no início de O castelo de minha mãe, com a persistência do olhar melancólico do garoto pelo vidro e a oração que sublinha que a montanha é sua pátria.

A glória de meu pai é outro bonito filme de Robert, com a leveza característica do cinema francês habitual, os cortes suaves, os movimentos sutis, a montagem que muitas vezes dispersa a atenção do espectador por uma ausência de fixidez narrativa. Se O castelo de minha mãe é centrado na figura materna, uma costureirinha que casou com um professor típico do interior da França, A glória de meu pai se volta para as admirações do menino a seu pai, um homem sábio que debocha dos homens práticos (como os pescadores) e no final vai ter sua maior glória transformando-se num destes homens práticos, um caçador de perdizes. O elenco, os cenários, os sistemas de produção, a equipe de filmagem são basicamente os mesmos num e noutro filme; como as origens literárias derivam do mesmo autor, Pagnol, as semelhanças são contundentes. E a avaliação final se identifica: um cinema controlado, literário, como é comum em França (Robert Bresson e Eric Rohmer à frente), agradável de ver, mas sem a chancela da sensibilidade profunda que a ingenuidade de Robert às vezes namora e a que ele chegou com mais eficácia em seu clássico A guerra dos botões (1961), extraído do texto de Louis Pergaud, certamente um ficcionista mais ácido que o bonachão Pagnol. (Eron Fagundes)