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A pessoa é para o que nasce (2005), de Roberto Berliner, o documentário brasileiro
Estamira (2006), de Marcos Prado, é, como o filme de Berliner, uma busca de captar cinematograficamente uma possÃvel orientação filosófica e estética de personagens a princÃpio rudes e primárias, embora se saiba que nenhum cérebro é tão rude quanto se pensa ao examinar-se a aparência do ser que o contém. As velhinhas cegas de Berliner são fichinha perto da grandiloqüência agressiva de Estamira, a catadora de lixo carioca que expele uma filosofia pessoal crua e provocativa que tem criado pane entre os pensadores tupiniquins; Estamira lembra um pouco uma das personagens mais ferozes do cinema brasileiro, o cineasta Glauber Rocha, ela fala desbragadamente, desnexualiza as coisas, dela brotam idéias divinas e outras diabólicas, ou em tudo há um pouco da incômoda desrazão ao mesmo tempo que parece tudo tomado de uma espantosa e perigosa lucidez.
O que mais permanece no olho do espectador —como um espinho no olho—é a virulência de Estamira em suas idéias sobre religião e a constante ira de sua persona narrativa. Pode-se dizer que Estamira como personagem está acima do filme que ela protagoniza; não que a realização seja ruim, suas flutuações de fluxo visual, estas disparatadas oscilações entre um preto-e-branco fosco e documental (modelo anos 60, duro e naturalista) e umas cores mais contemporâneas (como num painel jornalÃstico antropológico), a montagem solta — eis achados que valorizam a realização de Prado; porém a demência e a condição de lixo pensador de Estamira estão bastante além daquilo que a possÃvel inquietação cinematográfica do cineasta pode alcançar. (Eron Fagundes)