Crítica sobre o filme "Máscara do Terror, A":

Jorge Saldanha
Máscara do Terror, A Por Jorge Saldanha
| Data: 06/08/2007
O diretor George A. Romero é uma lenda do cinema de horror. Foi o primeiro de uma nova geração de cineastas que, num período que vai do final dos anos 1960 até o final dos 1970, realizaram filmes inovadores do gênero e que hoje se tornaram clássicos – alguns deles já refilmados, outros em vias de sê-lo. Apesar de ser mais lembrado por seus filmes de zumbis, Romero realizou interessantes trabalhos com outras temáticas, e neste A Máscara do Terror (2000) ele traz um conto de moralidade com ecos de O Fantasma da Ópera e até mesmo V de Vingança. O filme, que possui temática similar à de uma das obras mais apreciadas de Romero, Martin, renderia um ótimo episódio de uma antologia de horror como Contos da Cripta ou Mestres do Terror.

Na primeira metade da trama, repleta de alegorias, o personagem de Henry (muito bem encarnado pelo britânico Jason Flemyng) e as situações que posteriormente justificarão seus atos são bem estruturados, passando ao espectador a sensação de que, no momento em que ele assumir o controle da situação, as conseqüências serão explosivas. Seu discreto relacionamento com a ex-esposa de seu patrão (vivida pela atriz Leslie Hope, mais conhecida por ser a esposa de Jack Bauer na primeira temporada de 24 Horas), artista plástica que cria máscaras, é a peça central da história. O destino de ambos colide quando descobrem que seus cônjuges os traem, e a máscara branca e sem feições, que posteriormente será parte indissolúvel do rosto de Henry, é praticamente idêntica às que ela faz. Em sua segunda metade o filme prenuncia um pesadelo kafkiano, quando Henry acorda e descobre, horrorizado, que seu rosto está coberto pela tal máscara, soldada à sua carne. Incapaz de retirá-la ele se transforma numa espécie de fantasma anônimo, já que sua antiga vida foi deixada para trás.

O horror logo cede lugar a uma sensação de poder, já que a situação lhe garante o anonimato de que precisa para se vingar de tudo que lhe fizeram. Não há explicação para o surgimento da máscara, portanto ela não passa de uma alegoria que permitirá ao diretor explorar as conseqüências do poder que traz impunidade – tema já bem abordado na obra clássica de H. G. Wells O Homem Invisível. O problema é que a partir deste ponto Romero tem problemas para melhor desenvolver a idéia, indeciso entre fazer um thriller psicológico ou um filme comum de horror. Há poucas mortes – nenhuma delas é particularmente memorável -, o suspense é básico e a conclusão acaba sendo superficial e meio clichê. Ainda assim, Romero é suficientemente criativo para habilmente encaixar suas habituais críticas a uma sociedade onde o indivíduo não passa de uma peça consumidora e, ao mesmo tempo, a ser consumida - a festa "feliniana" da revista Bruiser, palco do clímax do filme, é o símbolo final de um "Sonho Americano" que viola o indivíduo e provoca a desagregação da família. Enfim, A Máscara do Terror é uma curiosidade na filmografia do diretor que, no mínimo, merece ser conhecida.