Crítica sobre o filme "Heroes – 1ª Temporada":

Jorge Saldanha
Heroes – 1ª Temporada Por Jorge Saldanha
| Data: 09/09/2007
Até a estréia de Lost, em 2004, fazia tempo que uma série de ficção científica não atingia uma larga audiência. O sucesso da série de J. J. Abrams abriu caminho para uma nova leva de programas sci fi que, a partir de 2005, chegaram à TV trazendo de volta a narrativa serializada, ou seja, cada episódio é continuação direta do anterior, todos fazendo parte de um arco desenvolvido ao longo da temporada. Mas séries como Surface, Invasion e Threshold fracassaram, não sendo renovadas para uma segunda temporada. Até que chegou 2006 e com ele veio Heroes, cujo conceito inicial não era muito animador, assemelhando-se ao da franquia X-Men e de outras séries de boa repercussão, como The 4400 e Supernatural. Apesar disso Heroes, baseada tanto na ficção científica como nos quadrinhos, fez furor entre os nerds de todo o mundo, e mais – a jornada de seus personagens cativantes acabou conquistando o público em geral, fazendo dela a série de maior audiência da NBC.

Há algo de épico e profundamente humano na história de pessoas que descobrem ter superpoderes e têm de se unir para "salvar a líder de torcida e salvar o mundo", e as audiências adoraram. Acima de tudo, a série é bem sucedida porque o criador Tim Kring (da série Crossing Jordan) e seus roteiristas criaram um arco complexo que prende o espectador dosando bem suspense, ação e drama, nele destacando personagens bem desenvolvidos, interpretados por um elenco que soube torná-los memoráveis. São eles o japonês Hiro (Masi Oka), fã de Jornada nas estrelas que possui a habilidade de teletransportar-se no tempo e no espaço; a líder de torcida Claire (Hayden Panettiere), que possui uma capacidade de regeneração que a torna praticamente indestrutível; Peter Petrelli (Milo Ventimiglia), que consegue assimilar os poderes dos outros heróis; o irmão de Peter, Nathan ( Adrian Pasdar), um político ambicioso que pode voar; a stripper Niki (Ali Larter), que possui como alterego a superforte (e má) Jessica; seu companheiro D. L. (Leonard Roberts), capaz de atravessar objetos sólidos; o filho do casal, Micah (Noah Gray-Cabey), que faz o que quer com aparelhos eletrônicos; Isaac Mendez (Santiago Cabrera), desenhista que em seus quadros e gibis retrata eventos do futuro; Matt Parkman (Greg Grunberg), policial com o poder de ouvir pensamentos; e o vilão Sylar (Zachary Quinto), que possui a mesma habilidade de Peter mas que, para assimilar o poder de alguém, precisa devorar seu cérebro!

Em Heroes os nerds podem deliciar-se com as inúmeras referências aos quadrinhos (principalmente o já citado X-Men e a graphic novel de Alan Moore Watchmen, que em breve também virará filme), que influenciaram até o tratamento gráfico da série, e à ficção científica. Entre as participações especiais destacam-se as de Malcom McDowell, de Laranja Mecânica e Um Século em 43 Minutos; Christopher Eccleston, astro da primeira temporada da nova versão da clássica série inglesa Doctor Who; e George Takei, o Senhor Sulu da série original de Jornada nas Estrelas. O personagem de Eccleston, que possui o poder da invisibilidade, chama-se Claude, uma referência direta ao ator Claude Rains, que foi O Homem Invisível no cinema. Takei interpreta o pai de Hiro, que anda numa limusine com as placas NCC 1701 - o número de registro da nave estelar Enterprise. Numa curiosa “troca de favoresâ€, Zachary Quinto, graças ao seu papel como Sylar, foi escalado para interpretar o Sr. Spock no próximo filme de Jornada nas Estrelas, a ser dirigido por J. J. Abrams. Já Stan Lee, o criador da Marvel, faz uma pequena ponta no estilo das que ocorrem nos filmes baseados nos quadrinhos da editora. É uma espécie de benção do criador de X-Men e tantos outros super-heróis a Heroes, uma série que soube tratar com carinho suas fontes de inspiração.

O último episódio trouxe uma resolução do arco da primeira temporada que, após tanto tempo gasto no seu desenvolvimento, pode ser considerada um tanto quanto decepcionante e anti-climática. Mas, quando no final do episódio, já temos a introdução da segunda temporada, ficamos ansiosos por sua continuação. Aqui no Brasil a primeira temporada da série já foi exibida no canal pago Universal, e deverá chegar à TV aberta ano que vem pela rede Record.