Por Eron Duarte Fagundes
| Data: 30/09/2007
O amor em fuga (L’amour em fuite; 1978) foi realizado por François Truffaut à s pressas para se recuperar da frieza com que seu O quarto verde (1978), sua incursão no universo do ficcionista americano Henry James, foi recebido no meio cinematográfico. Para esta tentativa de reconciliação com o espectador, Truffaut convocou sua clássica personagem, Antoine Doinel, fiando-se na segurança do já conhecido (dele, Truffaut, e de todos os que costumam ver seus filmes); assim, O amor em fuga retoma a trajetória de Doinel, iniciada na meninice de Os incompreendidos (1959) e dada como finalizada nas lides amorosas de DomicÃlio conjugal (1970); O amor em fuga é o filme que, fazendo uma retrospectiva de toda a vida de Doinel (a criatura lança até um romance autobiográfico), vai ser também o testamento da personagem.
O resultado é um dos mais débeis filmes do cineasta, onde seu sempre sensÃvel discurso sentimental derrapa para uma situação perigosamente sem saÃda e sem invenção. Utilizando trechos de filmes anteriores para recapturar as relações humanas da personagem, Truffaut monta tudo com uma mão pesada que comprometeria o estilo de filmar da fase final de sua filmografia: O amor em fuga antecipa aquele ranço classicista que verÃamos em O último metrô (1980), A mulher do lado (1981) e De repente, num domingo (1981); mas em O amor em fuga as coisas conseguem ser ainda mais irritantes e esponjosas.
Estamos muito longe da câmara libertária, solta de Os incompreendidos ou Uma mulher para dois (1961). Distante das sutilezas agudas de Duas inglesas e o amor (1971). Ou da paixão de A história de Adèle H. (1975). A canção-tÃtulo de Alain Souchon e Laurent Voulzy, que abre e fecha a narrativa, talvez seja uma das poucas coisas agradáveis do filme: ao menos tem um embalo que acorda o corpo do espectador amortecido pelas pobres imagens que, desta vez, Truffaut criou sem inspiração. (Eron Fagundes)