Crítica sobre o filme "Homem Que Caiu Na Terra, O":

Jorge Saldanha
Homem Que Caiu Na Terra, O Por Jorge Saldanha
| Data: 28/10/2007
A década de 1970 foi pródiga em filmes de ficção científica, e em 1976, um ano antes de Guerra nas Estrelas levar o gênero para o caminho da aventura arrasa-quarteirão, o diretor Nicholas Roeg dirigiu este O Homem que Caiu na Terra. Pela trama, o filme parece ser um descendente direto de O Dia em que a Terra Parou e um antecessor de E. T. – O Extraterrestre – contudo, ele possui diversas características que o distanciam dos filmes citados. O que mais se destaca é a escalação de David Bowie, então no auge de sua fama como rock star, para o papel principal. Com seu visual esquisito e sotaque britânico, ele dá ao personagem Newton a estranheza que o filme de Roeg exigia. Já o estilo minimalista de filmagem do diretor afasta a produção do cinema convencional de Hollywood. Praticamente não há tecnologia espacial visível, além das cenas de arquivo da NASA. O planeta de Newton não passa de um deserto comum e os aliens vestem roupas de plástico com tubinhos para lhes levar a água.

Detalhes importantes são ignorados no roteiro (Porque uma civilização com capacidade de viajar mais rápido que a luz não consegue extrair água da atmosfera? Porque Newton precisa que os cientistas da Terra inventem um veículo para levá-lo de volta ao seu planeta, quando bastaria que ele lhes desse os esquemas da nave que certamente o trouxe à Terra?), que está mais interessado em discutir temas como a alienação, a necessidade de estabelecer laços humanos e o domínio das corporações, além de mostrar as particularidades dos personagens e seus inter-relacionamentos. Thomas Jerome Newton é mostrado mais como um excêntrico tipo Howard Hughes do que como um extraterrestre, mesmo quando examinado como uma cobaia de laboratório - os cientistas são incapazes de detectar os implantes que o fazem parecer-se com um humano. O filme é tipicamente setentista na forma como aborda o sexo: dentro da então florescente liberdade sexual, Roeg não economiza em cenas de nudez, inclusive frontal. Se você nunca viu o pênis de David Bowie, esta é a sua chance.

As platéias de hoje, acostumadas com o desenrolar linear das tramas, poderá ficar confusa com a edição utilizada, que combina o estranho senso de percepção de Newton com as visões de seu planeta. Entre outras esquisitices, há um acena em que Newton passa de limusine num local e uma espécie de janela do tempo se abre, permitindo que ele veja os habitantes dali no século anterior, e vice-versa. Sem falar que os personagens envelhecem, indicando a passagem de muitos anos, mas Newton, os carros e as roupas não mudam. Enfim, O Homem que Caiu na Terra é um filme que, com seu estilo de filme de arte setentista, não envelheceu bem, e hoje deve atrair apenas a apreciadores de ficção científica e, principalmente, fãs de David Bowie, que nele fez sua auspiciosa estréia como ator.