Crítica sobre o filme "Último Metrô, O":

Eron Duarte Fagundes
Último Metrô, O Por Eron Duarte Fagundes
| Data: 17/11/2007
Precedido de prêmios e sucesso de crítica e público na França, O último metrô (1980), chegou ao Brasil em 1981, revelando-se um trabalho um pouco diverso na filmografia do realizador francês; misterioso em sua forma narrativa e conteúdo, este Truffaut afasta-se das análises sentimentais mais objetivas dos filmes mais característicos de Truffaut. Na época os jurados do César francês preferiram este Truffaut às experimentações revolucionárias de Meu tio da América (1980), o que historicamente não se sustenta.

A ambientação narrativa de O último metrô está calcada num período determinado da história da França —os nazistas tomam de assalto Paris— e este viés histórico ajuda a conferir um clima inusitado dentro das linhas da obra do cineasta. Uma atmosfera pesada e secreta paira sobre as personagens, agora distantes das levezas intimistas de outros seres de Truffaut, como a martirizada Adèle H. O último metrô não se realiza plenamente, as molas temáticas muitas vezes se soltam. Mas há certas anotações interessantes no roteiro do filme: o diretor de teatro é judeu e tem de se esconder num porão, mas nesta crítica antisemita Truffaut está longe do vigor do francês Jacques Doillon em Um saco de bolas de gude (1975); Truffaut retoma um de seus assuntos favoritos, estudando as relações entre a arte e a vida ao expor as personagens dentro da peça como personagens fora da peça, mas não chega ao resultado enxuto e preciso de A noite americana (1973), onde Truffaut desmistifica mais clara e violentamente o ato camuflador do artista.

Vendo desesperadamente a arte como meio alienante (a vida na Paris ocupada estava difícil, mas as casas de espetáculo estavam lotadas), Truffaut tenta uma feroz auto-penitência. No que consegue parcial sucesso. (Eron Fagundes)