Crítica sobre o filme "Cinco Covas no Egito":

Eron Duarte Fagundes
Cinco Covas no Egito Por Eron Duarte Fagundes
| Data: 16/11/2007
Em Cinco covas no Egito (Five graves to Cairo; 1943) o vienense Billy Wilder já exibe, num grau ainda menor, as virtudes do cinema que ele trouxe para Hollywood. Trata-se de uma narrativa cinematográfica ainda primitiva e desajeitadamente incauta no material fílmico utilizado, mas inegavelmente apresenta aquele viés irônico divertido e mordaz que Wilder depuraria ao máximo numa de suas obras-primas finais, A Primeira Página (1974).

Como tantas produções dos anos 40 (tanto nos Estados Unidos quanto na Europa, onde o neo-realismo italiano começava a dar as cartas estéticas), Cinco covas no Egito está ambientado na guerra. O episódio é a campanha do Egito, no momento em que os ingleses sucumbiram e os alemães tomaram conta desta parte da Ãfrica; um soldado inglês cambaleante chega a um desolado hotel do Cairo, vazio de hóspedes, onde topa uma camareira e um sentinela; com a chegada dos dominadores germânicos, o inglês é obrigado a esconder-se e depois disfarçar-se de um garçom antigo do hotel (morto num bombardeio) para iludir os invasores; com a condescendência de um tenente teutônico, que logo descobre sua farsa e depois se envolve com a camareira prometendo interferir pelo irmão da moça preso num campo de concentração, o inglês vai-se inserindo no universo dos inimigos, mancando como convém, pois o antigo garçom era coxo; Wilder dirige tudo com habilidade e classe, mas sem maiores vôos artísticos.

Nos papéis centrais, Franchot Tone como o inglês e a divina Anne Baxter como a camareira estão extraordinários. Destaque também para a interpretação deslumbrada e deslumbrante do ator-realizador Erich von Stroheim como o imperial marechal Erwin Rommel; a carreira de Stroheim como ator inclui outros momentos supremos, como o general aristocrata alemão em A grande ilusão (1937), do francês Jean Renoir, e como o diretor de cinema decadente convertido em mordomo de uma estrela de cinema em Crepúsculo dos deuses (1950), novamente sob as ordens de Wilder. Um belo filme de início de carreira do genial diretor: defeituoso filme, mas atraente espetáculo, como seu protagonista coxo. (Eron Fagundes)