É uma luta de David contra vários Golias: um filme nacional, enfrentando todos os blockbusters em cartaz, e que ainda estão chegando. Um filme de censura livre (ou quase), sem apelações, sem sacanagem, nada de pornochanchada. Uma comédia de costumes deliciosa, divertida, engraçada, que está entre o que de melhor fez o sempre inteligente e competente Jorge Furtado ("O Homem que Copiava", "Meu Tio Matou um Cara" - todos com Lázaro Ramos, que aqui entra no terço final do filme - a eficiência habitual).
O próprio tÃtulo, intrigante mas não atraente, já é um problema. A ação se passa numa cidadezinha do interior do Rio Grande do Sul, perto de Bento Gonçalves, onde há um antigo e insolúvel problema, por causa de um arroio que está poluÃdo, e com cheiro de fezes. Não há verba para resolver o caso mas, consultando uma funcionária da prefeitura, surge uma idéia: há uma verba perdida, para realizar um vÃdeo educativo, e como não faz sentido devolver dinheiro para o governo federal, o melhor a fazer é realizar esse vÃdeo de qualquer jeito e, com o dinheiro que sobrar, usar no fosso (ou fossa). Então, liderados por Fernandinha Torres, ótima e resmungona (eles têm um pequeno negócio de móveis, produzindo um prático beliche e até um ‘treliche’), põem mãos à obra. Ela escreve a história, com a ajuda do marido (outra presença engraçada, de Wagner Moura), os palpites do pai (o excelente Paulo José), a irmã bonita como estrela (Camila Pitanga), e o namorado dela (Bruno Garcia) como galã.
Basicamente, a história é uma variante na velha situação do cara estranho que acaba se envolvendo no filme ou na peça, conquistado pela arte. E com outra situação clássica: a história de que todo filme pode ser salvo pela montagem. Com diálogos afinados, o filme não tem pressa, mantém um clima rural, idÃlico, com farpas afetuosas brincando com o sistema de governo, a falta de talento dos realizadores e atores. Mas que acaba tendo um final feliz (e, finamente, erótico!).
A sessão de imprensa em que assisti ao filme foi um sucesso retumbante, como raramente se viu. Espero que essa alegria contagiante se espalhe por todas as salas que exibirem o filme. Divirtam-se. (Rubens Ewald Filho na coluna Clássicos de 13 de agosto de 2007)