Crítica sobre o filme "Ferroviário, O":

Eron Duarte Fagundes
Ferroviário, O Por Eron Duarte Fagundes
| Data: 17/01/2008
Pietro Germi é um dos diretores historicamente mais referidos do neo-realismo italiano, embora não chegue a ter a estatura de um Roberto Rossellini ou Luchino Visconti. Mas hoje seus filmes são poucos vistos e, assim, seu nome tende a ser esquecido. Daí a importância do lançamento em dvd, pela Versátil, de O ferroviário (Il ferroviere; 1956), onde o próprio Germi vive um ferroviário turrão com problemas profissionais e familiares filtrados pela visão-over de seu filho caçula, que é na verdade quem narra a história.

Diante de O ferroviário, percebe-se logo de cara que Germi se filia à corrente sentimental do neo-realismo, onde Vittorio de Sica é o autêntico Papa. E o garoto e seu pai em constantes andanças em O ferroviário se parece muito com as cenas do menino e seu pai em Ladrões de bicicletas (1948), de De Sica. Ocorre apenas que as anotações sociais de Germi são mais vagas, longínquas, abstratas; Germi vai dando ênfase maior ao sentimentalismo de suas personagens, as transformações que os fatos da vida operam no comportamento do protagonista levando-o a uma aproximação com os seus cuja coroação é a comovente festa de Natal do fim do filme em que as diferenças familiares cedem lugar a uma frágil doçura de relações humanas.

A julgar por este O ferroviário, Germi está entre os bons comediógrafos de costumes do cinema italiano, como Mario Moinicelli, Dino Risi, Alberto Lattuada e Luigi Comencini. (Eron Fagundes)