Crítica sobre o filme "20 Milhões de Milhas da Terra, A":

Jorge Saldanha
20 Milhões de Milhas da Terra, A Por Jorge Saldanha
| Data: 27/01/2008
A 20 Milhões de Milhas da Terra (1957) é um dos filmes mais populares do sub-gênero sci fi "monstro à solta", tão em voga nos anos 1950 e que hoje retorna com o badalado Cloverfield. Também é um dos mais estimados trabalhos do Mestre da animação Stop-Motion Ray Harryhausen, que já realizara os efeitos especiais do primeiro filme deste tipo na década, O Monstro do Mar (The Beast from 20.000 Fathoms, 1953, que serviu de inspiração para o famoso monstro japonês Godzilla), e de O Monstro do Mar Revolto (It Came from Beneath the Sea, 1956). A diferença aqui é que o monstro não foi criado por uma explosão atômica, mas veio de outro mundo. O Ymir (que em nenhum momento do filme é chamado assim) foi a criação favorita de Harryhausen, que procurou lhe dar uma personalidade que atraísse a simpatia da platéia. Como se fosse o cruzamento de um homem com um lagarto, ele é visto pela primeira vez saindo do ovo, atordoado pela luz e se comportando como um verdadeiro animalzinho recém nascido. Mesmo após começar a crescer, a criatura só se torna agressiva após ser acuada e atacada, o que leva a um desfecho claramente inspirado no final de King Kong - só que, no lugar do Empire State Building, em Nova York, aqui temos o Coliseu de Roma. Aliás, se fôssemos definir o monstruoso protagonista de A 20 Milhões de Milhas da Terra, poderíamos dizer que ele é uma mistura de E. T. com Kong - uma criatura de outro mundo que, solta em um ambiente urbano, apenas quer sobreviver.

Este filme marcou o início da colaboração da dupla Charles H. Schneer (produtor)-Ray Harryhausen com o diretor Nathan Juran, que continuou no antológico Simbad e a Princesa (The 7th Voyage Of Sinbad, 1958) e em Os Primeiros Homens na Lua (First Men In The Moon, 1964). Todo o trabalho relativo à animação (filmagem dos modelos, a combinação deles com cenas de locação, etc.) foram feitos somente por Harryhausen, e para os padrões da época, os resultados foram excelentes. Muito tempo depois de ver estes filmes, me surpreendi ao descobrir que, na verdade, eles eram produções classe "B" dos estúdios, feitas com orçamentos reduzidos e com elencos sofríveis. Os roteiros eram simplórios, especialmente no que se referia ao lado "humano" da trama. Neste aqui, por exemplo, o relacionamento do casal William Hopper e Joan Taylor é o mais clichê e superficial possível, servindo apenas para preencher as lacunas entre as aparições do Ymir. Mesmo assim ainda hoje são filmes cultuados, ao contrário de muitos classe "A". Isto tudo apenas valoriza o trabalho de Ray Harryhausen, um artista que fazia com que um filme barato parecesse ser uma super-produção, ao mesmo tempo em que maravilhava as platéias com suas fantásticas criações.