Crítica sobre o filme "007 Cassino Royale":

Jorge Saldanha
007 Cassino Royale Por Jorge Saldanha
| Data: 29/02/2008
Após a polêmica ocasionada pela escolha do loiro Daniel Craig para ser o novo James Bond, 007 - Cassino Royale foi consagrado pela crítica e tornou-se o filme da longa franquia que teve o maior sucesso de público. De início a escolha de Craig também não me agradou, mas a verdade é que sua figura um tanto "rústica" se adaptou perfeitamente ao perfil do personagem, que aqui recém está começando a desenvolver sua conhecida sofisticação. O filme, baseado no único livro de Ian Fleming sobre o qual os produtores da série oficial até há alguns anos não possuíam os direitos, marca um retorno da franquia ao tom mais realista dos primeiros filmes, e isso notamos já a partir do prólogo em preto e branco, onde vemos Bond conquistar sua licença “00â€. Apesar de não dispensar cenas de ação vertiginosas (a perseguição free running na Ãfrica, o atentado no aeroporto), a aventura também extrai tensão de situações típicas de personagens, como a cena em que Le Chiffre tortura Bond que está amarrado, nu, em uma cadeira. O jogo de cartas (no filme o pôquer substituiu o bacará do livro), que em filmes anteriores servia apenas como método narrativo, agora é parte essencial da trama e inclusive dá origem a momentos eletrizantes, como quando Bond é envenenado por uma droga que lhe provoca um enfarte.

Contudo, para melhor apreciar o filme, indiscutivelmente o fã deverá estar com a mente aberta para duas coisas: primeiro, é claro, a própria figura de Craig - loiro, nariz de boxeador e ostentando o início de uma indisfarçável calvície; e segundo, o fato de que 007 - Cassino Royale, ainda que feito por uma equipe de veteranos da série (a começar por Martin Campbell, que em 1995 dirigiu 007 Contra Goldeneye), é uma espécie de "James Bond Begins" que rompe com a cronologia mantida até agora, mostrando a origem do personagem nos dias de hoje. Desse modo Bond deixa de ser um agente forjado pela Guerra Fria e passa a ser fruto de uma nova geração do MI6, que obtém sua notória licença para matar em pleno século 21, já no fim da era Tony Blair. Por isso causa estranheza que, num contexto em que a cronologia da série foi rompida, M continue sendo interpretada por Judy Dench, que assumiu o papel em 1995 já no primeiro filme de Pierce Brosnam como James Bond. Campbell assume que a decisão de manter Dench foi apenas dele, portanto considero este o maior (ou único) deslize do diretor. Mas relevados estes detalhes, 007 - Cassino Royale pode ser considerado o melhor e mais consistente filme de ação de 2006, e sem dúvida um dos melhores da franquia 007 – muitos inclusive acham que é o melhor.

Com um roteiro cuidadosamente estruturado (espantosamente, da mesma dupla que escreveu o criticado 007 – Um Novo Dia para Morrer), ele utiliza alguns elementos conhecidos da série de forma diferente (o habitual tiro na câmera surge bem depois, a famosa assinatura musical do personagem é ouvida apenas no encerramento); outros, como Q e as engenhocas que fornecia para as missões de 007, desapareceram - certamente para tornar o filme mais verossímil. Uma atração à parte é a deslumbrante Eva Green, que com seus enormes olhos verdes conquista o coração do nosso herói. Aliás, para aqueles que disseram que esta foi a primeira vez que 007 se apaixonou, lembro que isso já acontecera em 007 A Serviço Secreto de Sua Majestade (1969), onde ele inclusive se casou. Mas o importante em tudo isso é que Bond is back em grande estilo, e renovou sua licença para matar por um novo e, pelo jeito, longo período.