| Data: 27/02/2008

Partner (1968), de Bernardo Bertolucci, é um dos mais desorientados filmes do grande cineasta italiano. A influência central do mais revolucionário realizador dos anos 60, o franco-suíço Jean-Luc Godard, se evidencia muito fortemente em cada quadro de Partner. Como em A chinesa (1967), um dos filmes de cabeceira da geração de cinéfilos a que Bertolucci pertence, o que vemos em Partner são estilhaços intelectuais improvisados e sofisticados, uma mistura livre e libertina da verborragia intelectual da época onde a poesia e a política, como disse uma personagem do brasileiro Glauber Rocha em Terra em transe (1967), são demais para um homem só. Bertolucci se desequilibra no peso da fusão destas duas confluências de sua obra: a questão estética (como construir uma forma nova de encenar) e a questão social (como o cinema poderá aproximar-se do mundo).

Se em A chinesa as disparidades verbais e ideológicas se costuram admiravelmente num mosaico inventivo e crítico, em Partner os estilhaços caem solitários no chão; nada avança em Partner, tudo parece tão gratuito e vazio quanto certas produções obscuras de um cinema marginal terceiromundista. No centro da revolução de maio de 1968, Bertolucci se perdeu bastante como pensador cinematográfico; Partner é um dos trabalhos menos referidos do cineasta e, ao vê-lo, entende-se o descaso do tempo: sua estaticidade narrativa está mofada e, mais, os ratos dos anos o corroeram bastante.

O que se passa em cena é que Pierre Clementi contracena com ele mesmo, Clementi é o protagonista e seu gêmeo Jacob, monologam o tempo inteiro eivados de lugares-comuns postos na tela com a imaturidade de um jovem Bertolucci. É claro que em alguns lampejos de imagens há aquele encanto misterioso de filmar que Bertolucci depuraria extremamente em obras-primas como O último tango em Paris (1972) e La luna (1979). É sempre louvável o senso espacial com que Bertolucci move sua câmara. (Eron Fagundes)