Crítica sobre o filme "New Adventures of Old Christine, The - 1ª Temp.":

Fernanda Furquim
New Adventures of Old Christine, The - 1ª Temp. Por Fernanda Furquim
| Data: 28/02/2008
Julia Louis-Dreyfus vem do sucesso de “Seinfeldâ€, onde interpretava Elaine, a única mulher no elenco fixo da série. Desde seu cancelamento, os atores, com exceção de Jerry, vêm tentando emplacar uma nova série. Antes de “The New Adventures of Old Christine, Julia já tinha estrelado “Watching Ellieâ€, produzida entre 2002 e 2003, com apenas 19 episódios, na qual, em tempo real, interpretava uma cantora em seu dia-a-dia, vivendo atribulações e problemas para chegar na hora marcada a seus compromissos. Não deu certo, tal qual as demais produções estreladas por Michael Richards ou Jason Alexander, seus colegas de “Seinfeldâ€. Em função disso, criou-se a idéia de que existia a “maldição de Seinfeldâ€. Até que, “The New Adventures of Old Christine†surgiu e quebrou essa tal maldição, concendendo até um Emmy para Julia em 2006.

Produzida no formato sitcom tradicional, ou seja, com três a quatro câmeras, a presença do público em estúdio e cenários limitados, a série gira em torno de Christine (Julia Louis-Dreyfus), uma mulher de quarenta e poucos anos, divorciada, que vive com o filho de uns seis anos e com o irmão. Christine acredita em fazer a coisa certa, como a grande maioria das personagens de sitcoms, mas, não tendo conhecimento de suas limitações e problemas, não compreende o porquê de sua vida não dar certo.

Todos giram em torno de Christine. Seu ex-marido com sua atual namorada, seu filho, seu irmão, sua funcionária na Academia para Mulheres e até as duas mães esnobes da escola de seu filho que, sempre que a encontram, passam a reparar em tudo o que ela faz, diz ou veste.

Sitcom é o diminutivo de Situation Comedy, portanto, aplicável somente para comédias. Mas, dificilmente o telespectador acostumado a acompanhar o gênero há algumas décadas irá conseguir se interessar por “The New Adventures of Old Christineâ€. Esta é uma produção voltada à nova geração, que ainda não conhece todos os truques, que são comumente utilizados para desenvolver as hitórias de uma sitcom. A série é um amaranhado de clichés, tanto em situações e diálogos, quanto em personagens.

Como se não bastasse, a personagem principal testa os limites do aceitável em seus infindáveis diálogos e monólogos, nos quais destrincha suas emoções e pensamentos. Está certo que uma sitcom se baseia nos conflitos dos personagens, os quais são expressados em forma de diálogos ou situações físicas. Mas, Christine cansa. Não se cala por um único minuto, fala até sozinha. Após alguns episódios, deseja-se que ela acorde um dia com dor de garganta e fique rouca. Mas, viciada em remédio para gripe, dificilmente isso irá ocorrer.

Ao longo da primeira temporada vemos os demais personagens disperdiçados em suas caracterizações, sendo sufocados pela personalidade de Christine que recebe toda a atenção do elenco de personagens, do diretor da série, dos roteiristas e do cameraman, traduzindo assim o fator dominante que comanda a vida de Christine: seu ego.

Uma sitcom tradicional é construída para apresentar situações do cotidiano. Seus personagens são caricaturas de pessoas reais, as histórias, em geral, giram em torno do personagem ou tema central, tendo os demais do elenco servindo de apoio ao principal. Mas, no entanto, eles devem existir enquanto pessoas, devem ser aptos a carregar histórias ou situações próprias. Isto de fato ocorre em “The New Adventures of Old Christineâ€. A série tem personagens coadjuvantes com personalidades bem definidas e uma ótima escalação de elenco. Se apenas Christine e seus roteiristas lhes dessem uma chance, com certeza as relações entre personagens se equilibraria permitindo, inclusive, o surgimento de novas situações; quem sabe até, com um desenvolvimento mais original.

Nos 14 episódios desta 1ª Temporada que sai em DVD no Brasil, Christine só não aparece, ou não é mencionada, em duas cenas. Uma em que o irmão envolve-se com a mãe de um dos garotos que vai à festa de aniversário de Ritchie, em “Teach Your Children Well†(episódio 8); e outra em que seu irmão tenta fazer amizade com Richard, ex-marido de Christine, no episódio “Some of My Best Friends Are Portuguese†(episódio 12).

A série foi criada para Julia Louis-Dreyfus brilhar. Então, neste caso, alcançou seu objetivo. Christine é contraditória, como uma personagem de sitcom deve ser. Acredita na igualdade social, mas é egocêntrica. Dedica-se a seu filho, mas, no dia-a-dia, pensa primeiro nela. Quer encontrar um novo amor na vida, mas não deseja um novo relacionamento. Não gosta das mães que encontra na escola do filho por serem esnobes, mas, ao mesmo tempo, ela própria é extremamente crítica. Ela tenta ser uma boa pessoa, que seja admirada e respeitada, mas não consegue mentir e, com isso, não é capaz de esconder suas opiniões e sentimentos.

Ela consegue manter uma ótima relação de amizade com seu ex, Richard (Clark Gregg). Até demais, já que o elo que liga os dois é motivo de ciúmes e problemas por parte dos demais que tentam manter uma relação com eles. No final da temporada, temos um episódio em aberto, no qual Christine e Richard se envolvem em uma situação que poderá comprometer o futuro relacionamento de Richard e sua namorada.

O irmão de Christine, Matthew (Hamish Linklater), é um desempregado que guarda traumas de sua infância e de sua mãe. Os irmãos moram juntos e Matthew atua como babysitter de seu sobrinho, Ritchie (Trevor Gagnon). A série tem inicio com Christine levando Ritchie para uma escola particular onde ela passará a ter contato com as mães esnobes dos colegas de seu filho. Destaque para a dupla Marly (Tricia O´Kelley) e Lindsay (Alex Kapp Horner). É justamente através dessas duas que Christine descobre que seu ex-marido está namorando uma mulher mais jovem e, pior, com o mesmo nome que ela. Para não confundir as duas, a namorada de Richard passa a ser chamada de a nova Christine (Emily Rutherfurd).

A melhor amiga de Christine é Barb (Wanda Sykes), a quem costuma apresentar como “minha amiga negraâ€. Aliás, a questão racial é vista como tema em alguns episódios da série, como em “The Other F Word†(episódio 6) em que Christine, tentando romper a dominação da raça ariana na escola do filho, corre a indicar uma família negra para uma das vagas de novos alunos. Além das questões racistas, comum em praticamente todas as séries americanas, especialmente as sitcoms, “The New Adventures of Old Christine†também faz algumas passagens em questões políticas, com falas soltas em vários episódios, criticando o governo Bush, bem como ecológicas.

As falhas na construção da narrativa da série agravam-se quando se constata que a evolução da história também sofreu com a falta de cuidado dos produtores. No primeiro episódio, Christine conhece a nova namorada do ex-marido. No segundo, “Supertrampâ€, ela decide arranjar para ela um encontro de uma noite; no terceiro, “Open Waters†ela conhece Burton; no quarto episódio, “One Toe Over the Line, Sweet Jesusâ€, Richard tenta sabotar a relação de Christine e Burton; no qunto episódio, “I´ll Show You Mineâ€, Burton pede para conhecer o filho de Christine e ela acaba rompendo o namoro de dois meses.

A falha no desenvolvimento da história está no episódio nove, “Ritchie Has Two Mommiesâ€, quando Richard pede a Christine, permissão para apresentar sua namorada, a nova Christine, para o filho, Ritchie. Opa! O garoto já conhecia a namorada do pai logo no segundo episódio, “Supertrampâ€, em que os dois aparecem juntos em uma cena na qual Richard e a nova Christine vão buscar o menino para sair. Já no episódio número quatro, “I´ll Show You Mineâ€, quando Burton pede a Christine para conhecer seu filho, ela fica em dúvida, com medo de ser cedo demais para que o filho conheça um namorado seu. Pois justamente neste episódio a nova Christine comenta com a ex de seu namorado o quanto a relação entre ela e o menino tem sido boa, apesar de também ter tido receio no início quando Richard os apresentou.

É evidente pela narrativa do episódio nove que se trata, na verdade, do segundo filmado, pois percebe-se ser a continuação das situações apresentadas no piloto. No entanto, por algum motivo, os produtores resolveram mudar a ordem de exibição e disponibilização no Box da primeira temporada lançada em DVD.

A série foi criada pela atriz e roteirista Kari Lizar, que tem em seu currículo vários roteiros de “Will & Grace†e da série “Mulher Nota Milâ€, produção de 1994 a 1997. Como atriz, foi vista em “Contratempos†(A Conquista de Tess), vários episódios de “Mulher Nota Mil†(como a sra. Carmichael) e de “Will & Grace†(como Connie). A direção de todos episódios é de Andy Ackerman, também produtor, que está na televisão desde o início dos anos de 1990 e tem em seu currículo sitcoms como “Cheersâ€, “Wingsâ€, “Frasierâ€, “Seinfeldâ€, “Beckerâ€, “Two and a Half Man†e “Everybody Loves Raymondâ€, entre outras. (Fernanda Furquim - Leia o blog RevistaTV Séries)