Crítica sobre o filme "Homem Que Veio de Longe, O":

Eron Duarte Fagundes
Homem Que Veio de Longe, O Por Eron Duarte Fagundes
| Data: 10/03/2008
Joseph Losey é um dos principais diretores do cinema norte-americano. No começo dos anos 50, foi acusado de comunista e banido do país. Instalou-se na Inglaterra, onde provavelmente a melhor parte de sua produção foi criada. O homem que veio de longe (Boom!; 1968) pertence a esta fase britânica de Losey, mas está muito longe de ser um filme que apaixone, antes pelo contrário, sua natureza enrijecida e teatral seguidamente se afastam do coração do espectador; brechtiano convicto desde os anos 30, quando circulou pela intelectualidade européia, Losey mete os pés pelas mãos para pôr na tela uma desemoção absoluta, mas faltaram-lhe aqui a agudeza e o senso de cinema que ele atingiria num filme rodado no ano seguinte, Cerimônia secreta (1969) e que ainda hoje parece ser seu trabalho mais expressivo.

Extraído duma peça do norte-americano Tennessee Williams (foi o próprio autor da peça quem escreveu o roteiro do filme) e filmado na Sardenha (paisagens abertas) e nos estúdios do produtor italiano Dino de Laurentis, O homem que veio de longe não logra nunca sair de seu gueto teatral; as frases brilhantes, ditas britanicamente por Elizabeth Taylor (londrina) e Richard Burton (natural do País de Gales), não funcionam bem em seu sentido fílmico, resultando daí um refinamento enrijecido pedante e artificioso.

O homem que veio de longe tem, é claro, as características do cinema de Losey, mas surgem aqui como um leite talhado: exposição demasiada ao calor teórico do cineasta. No centro da trama, uma aristocrata neurótica trata enfurecidamente os serviçais: as relações de classe que Losey foi buscar no alemão Bertold Brecht. O rigor formal e a maximização das interpretações estão ali, assim como a dignidade intelectual de seu cinema, ainda que aqui possa render-se ao estrelismo comercial de Elizabeth e Richard, astros da indústria naqueles anos.

Será sempre difícil desfazer-se assim de um Losey, pois se trata de um diretor sério e importante. Mas a honestidade crítica me manda dizer que neste caso seus ajustados conceitos de cinema não me satisfizeram. (Eron Fagundes)