Crítica sobre o filme "Homem do Terno Cinzento":

Eron Duarte Fagundes
Homem do Terno Cinzento Por Eron Duarte Fagundes
| Data: 10/03/2008
Poucas são as referências que chegaram até nós do realizador norte-americano Nunnally Johnson, mais um dos muitos artesãos que servem burocraticamente à indústria de imagens de Hollywood. Quando o espectador de hoje dá com Homem do terno cinzento (The man in the gray flannel suit; 1956), de cara identifica a narrativa quadradona, estereotipada e, com os anos, rançosa de que se vale Nunnally para expor sua historieta melodramática, moralista e superficial ao assistente.

Homem do terno cinzento se desestrutura basicamente por uma incompetente dispersão da atenção de quem vê o filme. Esta dispersão nasce de falhas narrativas que os anos acentuaram, como o uso muitas vezes inadequado de flasbacks (o pai de família que recorda suas aventuras bélicas e amorosas dos tempos da guerra na Itália) e o acúmulo descontrolado de episódios díspares, como retratos familiares, relações sentimentais e ambientações profissionais.

Essencialmente, Homem do terno cinzento centra seu interesse na figura da personagem vivida sem criatividade por Gregory Peck, um ex-capitão do exército que atuou na Itália e hoje é um executivo; casado com a personagem de Jennifer Jones (também uma atuação opaca) e pai de três filhos pequenos, seu dilema se sobressai quando decide contar à mulher sobre a necessidade de ajudar seu filho italiano. Dotado de um olhar moralista para a boa família americana, Homem do terno cinzento envelheceu inteiramente em seus duros aspectos formais. Conta ainda com a música amiúde óbvia e repetitiva de Bernard Herrmann, aqui longe de impor climas narrativos como em sua parceria com o diretor inglês Alfred Hitchcock. (Eron Fagundes)