Crítica sobre o filme "Donos da Noite, Os":

Eron Duarte Fagundes
Donos da Noite, Os Por Eron Duarte Fagundes
| Data: 05/03/2008

O realizador norte-americano James Gray roda um espetáculo cinematográfico formalmente correto em Os donos da noite (We own the night; 2007) para manter o espectador num clima de tensão e suspense que em fotograma algum dá trégua. Funciona bem para estimular a ira, o medo, a libido do observador: mas não passa deste conceito, e uma certa sensação de vazio (apesar de nossos instintos satisfeitos) nos perpassa após o despencar da projeção sobre nós.

A narrativa começa com uma quente cena de primícias sexuais entre Joaquim Phoenix e Eva Mendes, ele como um devorador vagabundo, ela com o jeito de uma vadia entregue; a lubricidade latina de Eva domina o  quadro e pode levar o assistente masculino a expelir seus hormônios. Depois, o que vemos na tela é a superficialidade com que Gray vai desfiando os problemas de consciência de seu protagonista, que vive entre dois mundos, sua família formada por um pai e um irmão policiais e o universo do submundo da boate em que é gerente e onde perigosos mafiosos russos circulam traficando drogas; a violência oriunda desta hesitação da personagem explode, e Gray filma com competência e sem nenhum decoro o que ocorre; a namorada do protagonista convive com tudo mas é, como o próprio espectador, alguém que assiste a tudo como testemunha trêfega.

Os donos da noite abdica de uma reflexão mais apurada sobre os assuntos que aborda para testar os limites do espetáculo, atraente e fácil. Neste sentido vai pelo caminho oposto àquele tomado pelo também norte-americano Robert Redford em Leões e cordeiros (2007) que, mesmo mantendo-se no formato do espetáculo de Hollywood, enxerta muita reflexão que descaracteriza o espetáculo. Nem um nem outro cumprem plenamente sua função, mas Os donos da noite está mais perto do cinema. Ou ao menos do cinema como espetáculo (Eron Fagundes)