Crítica sobre o filme "Rise – A Ressurreição":

Jorge Saldanha
Rise – A Ressurreição Por Jorge Saldanha
| Data: 19/03/2008
O vampiro talvez seja a mais tradicional das criaturas sobrenaturais do folclore e da literatura já levadas às telas. É natural, portanto, que o mito tenha sofrido um enorme desgaste ao longo destes mais de 100 anos de cinema. Na tentativa de manter vivo o interesse nos monstros sugadores de sangue, principalmente após o final do ciclo do célebre estúdio inglês Hammer, os cineastas foram colocando-os em meios que fogem ao habitual terror gótico. Assim, cada vez mais vimos vampiros em comédias, sátiras e filmes de ação, onde mais do que para inspirar terror no espectador, o monstro era utilizado para divertir. Nos anos 1980 tivemos principalmente dois filmes que destacaram e modernizaram o vampiro – A Hora do Espanto e Os Garotos Perdidos, e a partir do final do século 20, em produções como Blade – O Caçador de Vampiros e Underworld – Anjos da Noite, os dentuços tiveram destaque como heróis/vilões de ação. Existem incontáveis filmes e séries de TV sobre o tema, muitos buscando uma maneira de reinventar o mito do vampiro. E isto nos traz a este Rise – A Ressurreição (2006), escrito e dirigido por Sebastian Gutierrez, roteirista de Na Companhia do Medo e Serpentes a Bordo – referências sem dúvida não muito animadoras.

O filme da Ghost House Pictures, produtora de Sam Raimi responsável por títulos como O Grito e 30 Dias de Noite, tenta usar a figura tradicional, sanguinária, do vampiro, mas num ambiente mais urbano e moderno (uma tendência iniciada já nos anos 1970) e sem algumas de suas características mais famosas, como seus caninos salientes. Para se alimentar de sangue, eles cortam a jugular de suas vítimas com uma pequena adaga o que, convenhamos, tira muito do charme da criatura da noite. Além disso, os vampiros de Rise não se transformam em morcegos e não possuem força sobre-humana. Mas apesar das tentativas em inovar, o filme ficou quase dois anos engavetado pelo estúdio e, fora dos EUA, foi lançado diretamente em DVD. Assistindo-o, é fácil de notar o porquê: ele parece uma colcha de retalhos formada por trechos de muitos outros filmes do gênero, e sua narrativa não-linear o torna um pouco confuso. Para piorar a trama é lenta, os sustos e a ação são escassos e o vilão Bishop (James D’Arcy) não transmite nenhum senso de ameaça ou sedução. Portanto, e isto não deixa de ser curioso, Rise é um filme de vampiros cujos maiores atrativos estão em outros aspectos, especialmente em seu elenco. A sino-americana Lucy Liu (As Panteras, Kill Bill Vol. 1) se entrega de forma convincente ao personagem, especialmente nas seqüências após sua transformação, onde luta para aceitar sua nova condição e chega até mesmo a tentar suicídio. Também protagoniza cenas apimentadas com algumas colegas de elenco, e mostra (discretamente) sua nudez – para muitos isso por si vale no mínimo uma locação. Carla Gugino (Sin City) também embeleza o filme, e é uma pena que sua vampira Eve apareça tão pouco na história. Outro valor sub-aproveitado é o ótimo Michael Chiklis (The Shield, Quarteto Fantástico), que ganha maior exposição apenas na reta final da história. O elenco também traz curiosidades, como o veterano ator japonês Mako (de incontáveis aparições na TV e no cinema) em seu último filme, e as pontas de Robert Forster (Jackie Brown) e do roqueiro Marilyn Manson, irreconhecível como o atendente de bar.