Crítica sobre o filme "Reino, O":

Edinho Pasquale
Reino, O Por Edinho Pasquale
| Data: 03/04/2008
Depois dos atentados ao World Trade Center, Hollywood produziu vários filmes a respeito. Entre eles, o fraco e chato World Trade Center do diretor Oliver Stone, e o menos pretensioso e um pouco mais interessante Vôo United 93 do diretor inglês Paul Greengrass. Em 2007 foi produzida uma nova fornada de filmes sobre a Guerra do Iraque, como No Vale das Sombras e Redacted (este último de Brian de Palma). Além destes, aparece na mira da crítica e do público esse O Reino, um filme que não trata do 11 de setembro de 2001 e nem da Guerra do Iraque, mas que tem tudo a ver com a relação conflitante entre os interesses dos Estados Unidos e os interesses dos países árabes, especialmente as relações um tanto questionáveis que os poderosos norte-americanos estão mantendo com a Arábia Saudita e outros países daquela região desde a década de 30 e a descoberta dos grandes mananciais de petróleo por ali. O filme começa bem, muito bem, só narrando fatos. E depois, quando parte para a ação, segue um ritmo muito bom. Seria perfeito, se não fosse por alguns detalhes.

Além do começo narrativo, em um misto de apresentação com computação gráfica e cenas reais, gostei da parte em que os agentes do FBI conseguem vencer a barreira política e um tanto mercantilista dos senadores norte-americanos - afinal, já se sabe, que uma certa parcela de políticos estadunidenses realmente “deve favores†a muitos “generosos doadores†de dinheiro árabes durante a época de campanhas. Isso não é nenhuma novidade.

O Reino acerta nesta parte e segue bem até o momento em que a equipe do FBI chega à Arábia Saudita e tem que lidar com uma certa “reclusão†imposta pela polícia local e pelas demais autoridades - afinal, ninguém quer que os agentes especiais morram por ali ou que “enfiem o nariz onde não interessaâ€. O melhor é que eles fiquem o mais “quietinhos†possível. Até aí o filme segue uma história bem construída e interessante.

A primeira falha ocorre logo depois. Afinal, o roteiro de Matthew Michael Carnahan precisava menosprezar tanto a investigação dos sauditas? Quem realmente acredita que eles “passariam†por cima de todas as evidências do local e não achariam um simples detonador que o agente especial do FBI Grant Sykes encontra de maneira tão fácil, simplesmente “passando†por ali. Não, acho que por mais que os sauditas não quisessem investigar o caso - algo quase impossível em uma situação como essa -, seria muito improvável eles passarem por provas tão óbvias e “jogadas pelo chãoâ€. A partir daí o roteiro ignora um pouco a nossa inteligência e passa a elevar os agentes do FBI a um nível de inteligência que eles não demonstram em nenhum momento, enquanto menospreza qualquer capacidade de investigação dos sauditas. Nada do que os investigadores do FBI faz é fruto de uma grande genialidade, pelo contrário. O que eles fazem é algo esperado de qualquer equipe de investigação com o mínimo de preparo no mundo. E ninguém me convence que a Arábia Saudita não tem uma equipe o mínimo preparada para uma investigação destas, ainda mais depois de tantos atentados terroristas naquele país e nos demais vizinhos.

Por outro lado, as cenas de ação realmente são muito bem feitas. Nesse ponto o diretor nova-iorquino Peter Berg fez um bom trabalho. Agora o filme peca em outro ponto: na solução da trama. (SPOILER – não leia o trecho seguinte se não quiser estragar uma parte importante do filme). Aquela história de “procure o homem sem dedos na mão†foi muito, mas muito forçada. Quer dizer que qualquer homem com mais de 50 anos sem alguns dedos na mão deveria ser tido como suspeito ou culpado? Mais uma vez ignoraram a nossa inteligência. Além disso, acho que é muito triste a elite do FBI precisar de tanta sorte para encontrar uns culpados como estes… se não fosse a menina ser tão generosa com Janet Mayes depois de ganhar o piriluto, o que seria deles e de nós? Outra forçada de barra - ou seria economia de trabalho para o roteirista?

Mas se O Reino erra em vários pontos - problemas no roteiro, especialmente - ele acerta em outros tantos. O final finalzinho é bacana. A crítica ao desejo de vingança desmedido dos dois lados da questão fica no ar e incomoda. Acho, realmente, que essa história nunca terá um fim. Outros pontos positivos são os atores e a direção de Peter Berg. (Alessandra Ogeda – confira mais detalhes no blog Crítica (non)sense da 7Arte)