Cr韙ica sobre o filme "Santos e Dem么nios":

Edinho Pasquale
Santos e Dem么nios Por Edinho Pasquale
| Data: 03/04/2008
Alguns filmes apresentam uma intensidade narrativa que s贸 pode ser explicada por um fator: quem conta a hist贸ria tem conhecimento total de causa. Santos e Dem么nios 茅 um destes filmes. O nome original j谩 tinha me chamado a aten莽茫o h谩 algum tempo (鈥淎 Guide to Recognizing Your Saints) seria algo como 鈥淯m Guia para Reconhecer seus Santos鈥). O interessante do filme 茅 que ele apresenta a for莽a que tem porque 茅 dirigido por Dito Montiel, o mesmo homem que escreveu o livro hom么nimo e que, como j谩 era de se esperar, viveu tudo o que narra na tela.

Desde o princ铆pio a t茅cnica do diretor e roteirista, Dito Montiel, mostra que ele tem talento. E o melhor 茅 que o filme s贸 vai melhorando. O come莽o, em que aparece Robert Downey Jr. fumando e lendo parte de seu livro, 茅 brilhante. Assim como a narrativa da vida do garoto em 1986, quando o ator Shia LaBeouf fala para a c芒mera que ele vai abandonar a todos que aparecem no filme. O roteiro realmente 茅 muito bom. Gostei na mesma medida das intercaladas da 鈥渉ist贸ria real鈥 do Queens anos 80, contando a vida de Dito, at茅 a 鈥渞evis茫o鈥, por assim dizer, desta hist贸ria com ele adulto. Al茅m disso, a t茅cnica de utilizar uma ou outra vez o ator falando diretamente com a c芒mera ficou bem interessante. Diferente de outros filmes, esse recurso ficou perfeitamente casado com a hist贸ria e n茫o pareceu for莽ado. O mesmo com o uso das m煤sicas鈥 h谩 pelo menos dois momentos chaves da hist贸ria em que ela conta o sentimento do narrador e adianta o que vai acontecer ou, em outro sentido, une os v谩rios personagens em uma mesma 鈥渁ura鈥.

Fiquei impressionada tamb茅m com o elenco. N茫o h谩, realmente, um ator ou atriz que destoem ou que esteja mal. Todos est茫o muito naturais em seus pap茅is - algo que parece mais 鈥渇谩cil鈥 quando se tem talento mas, mais que isso, quando o roteiro 茅 realmente veross铆mel - e imprimem uma for莽a muito interessante ao filme. Mas o mais interessante do filme 茅 que ele trata de muitos temas. Talvez os mais fortes sejam a amizade, o amor entre pais e filhos - e os problemas que derivam deste amor quando a comunica莽茫o 茅 imposs铆vel de fluir entre as pessoas -, a busca por uma vida melhor, os la莽os que nos unem 脿s pessoas, a culpa, o sentimento de pertencer a um lugar ou a um grupo, s贸 para citar alguns.

O filme realmente marca por dois pontos: a rela莽茫o de Dito com o pai e a sua d煤vida em sair de casa para buscar algo melhor e deixar as pessoas que lhe configuravam como indiv铆duo para tr谩s. No caso de Dito e o pai, o mais interessante na hist贸ria 茅 a falta de comunica莽茫o entre eles. 脡 como se cada um falasse um idioma diferente. Monty est谩 sempre dizendo o que sente sem que Dito lhe escute e Dito est谩 sempre dizendo ao pai o que deseja, anseia e sente sem que Monty lhe escute. O que acontece com eles 茅 quase asfixiante e t茫o real. Se isso n茫o acontece entre um pai e um filho ou filha, pode acontecer entre uma m茫e e um filho ou filha ou entre um marido e uma mulher鈥 enfim. Mas acontece.

O outro tema, do quanto Dito se sente dividido e, no futuro, culpado por escolher o caminho de sair de perto das pessoas de quem gosta e se preocupa tamb茅m 茅 muito forte. Afinal, o que nos faz sermos o que somos? Muitas coisas, 茅 claro. Mas algo muito forte s茫o os la莽os de amizade e amor que constru铆mos quando somos jovens, seja com fam铆lia ou com amigos. E abandonar tudo isso para buscar uma vida melhor ou uma vida fora da loucura que achamos que nos rodeia 茅 muito dif铆cil. (Alessandra Ogeda 鈥 confira mais detalhes no blog Cr铆tica (non)sense da 7Arte)