Crítica sobre o filme "Preço da Coragem, O":

Edinho Pasquale
Preço da Coragem, O Por Edinho Pasquale
| Data: 08/04/2008

Desde Bem-vindo a Sarajevo (1997), ambientado na Bósnia, o diretor inglês Michael Winterbottom tem-se voltado algumas vezes para narrativas políticas que enquadram as mais apaixonantes tensões internacionais da atualidade. Seu mais novo filme, O preço da coragem (A mighty heart; 2007), vai pelo mesmo caminho. Novamente em cena —e agora em primeiro plano— jornalistas de guerra. A realização conta a história da investigação que a jornalista Mariane Pearl faz quando seu marido, o também jornalista Daniel Pearl, desaparece após ter ido ao encontro dum fundamentalista do grupo terrorista Al Qaeda para uma entrevista. O filme é baseado no livro-reportagem de Mariane, que diz ter escrito o livro para que seu filho (ela estava grávida de sete meses quando o marido foi seqüestrado e brutalmente degolado pelos terroristas, como mostra o vídeo liberado pelos criminosos internacionais) pudesse conhecer um pouco do pai que não chegou a ver; a voz da personagem no fim do filme diz que “este filme é dedicado a meu filho Adam.â€

Segundo alguns diálogos no filme, se evidencia que o seqüestro do jornalista norte-americano foi represália a possíveis maus tratos a terroristas muçulmanos na prisão de Guantánamo, fronteira com Cuba. Em O caminho para Guantánamo (2006) o cineasta narrava os descaminhos de três muçulmanos confundidos com terroristas árabes e que vão ter à prisão de Guantánamo. Em O preço da coragem surge o outro lado da moeda: um inocente americano paga a mula roubada do imperialismo americano. Falando de jornalistas, o estilo de filmar de Winterbottom é tensamente documental, tenta mimetizar com as imagens do cinema o gene jornalístico. Ele já não se sai tão bem quanto em Bem-vindo a Sarajevo: em O caminho de Guantánamo e também em O preço da coragem o cinema de Winterbottom padece de um certo maneirismo, de uma faceirice formal, da ausência de rigor; em Bem-vindo a Sarajevo e principalmente em Código 46 (2003), um jogo de memória e esquecimento que estranhamente fugia ao tom diretamente político de seu cinema, Winterbottom foi mais pessoal, rigoroso e sem concessões.

Mas O preço da coragem é um belo espetáculo humanista. E traz em seu bojo uma interpretação madura de Angelina Jolie na pele de Mariane; sem abdicar de seu charme de estrela, ela humaniza terrivelmente sua criatura. Quem a certa altura de Hollywood foi uma garota (personalidade) interrompida num filme de James Mangold, revela-se agora uma mulher-atriz bastante digna do papel que vive na tela. (Eron Fgundes)