Crítica sobre o filme "Margot e o Casamento":

Edinho Pasquale
Margot e o Casamento Por Edinho Pasquale
| Data: 09/04/2008
Eu tenho uma verdadeira admiração pelo trabalho de algumas atrizes. Dentre muitas delas, incluo na lista Nicole Kidman e Jennifer Jason Leigh. E foi por elas que eu assisti a esse filme. Ainda que ele mereça atenção também por seu diretor e roteirista, Noah Baumbach, o homem que impressionou a muitos com o anterior A Lula e a Baleia. Eu assisti ao filme com Jeff Daniels e Laura Linney e gostei do que vi. Quando soube que se tratava do mesmo cérebro por detrás dos dois filmes, entendi muita coisa. Afinal, Margot e o Casamento “sofre†com o mesmo “excesso†de realismo e de franqueza que se percebe em A Lula e a Baleia. Mas, para mim, esse novo título é ainda melhor que o anterior. Ou, pelo menos, é diferente. Ainda que guarde várias semelhanças, é claro. Mas de fato gostei mais deste último, com um trabalho incrível das atrizes mencionadas e, para minha surpresa, do ator Jack Black - que prova que pode fazer um trabalho mais denso do que as comédias que estamos acostumados a ver.

Noah Baumbach mostrou, com seu filme anterior, uma peculariedade: o talento para escrever roteiros muito, mas muito bons, e para sacar grandes interpretações de seus atores. Também demonstrou que tem uma mão certeira para “desvelar†os bastidores das famílias com um certo “nível cultural†nos Estados Unidos. E, claro, esta radiografia não se aplica apenas àquele país, mas acho que pode ser plausível em qualquer classe média ou média-alta com um certo “nível†de apreço pela cultura e/ou formada por gente com talento para as artes em qualquer parte do mundo - incluindo no Brasil.

Pois o diretor e roteirista sigue destilando a sua crítica ácida e realista deste tipo de família em Margot e o Casamento. Só que agora o foco sai um pouco do “casal e seus filhosâ€, ponto central de A Lula e a Baleia, e se amplia para uma relação centrada em duas irmãs e suas respectivas famílias. Então aqui também se percebe de maneira muito forte a relação pais e filhos, assim como a decadência da instituição família com a presença sempre “ameaçadora†da infidelidade, mas o foco se amplia para a relação de intimidade, competição, amor e repulsa entre irmãs e, em paralelo, com a vizinhança.

Como no filme anterior de Baumbach, o carro-chefe aqui é realmente o roteiro. Ao invés de um casal de escritores com talento e com ego em conflito, visto em A Lula e a Baleia, aqui a personagem-título é uma escritora de talento que vive uma crise existencial sem se dar conta. Antes de ser confrontada com a realidade, ela se sente na posição de julgar a tudo e a todos. Critica a irmã, o futuro marido, os vizinhos deles, o próprio filho… A metralhadora giratória não poupa ninguém. Gosto de gente sincera, mas Margot chega a ser cruel. Ela não tem, muitas vezes, aquele senso crítico de saber quando ficar calada… não. Ela segue como uma criança que fala absolutamente tudo o que pensa, não importando o quanto isso pode machucar uma outra pessoa por nada, sem nenhuma razão prática ou sentido de “ajudaâ€. Mas claro, não apenas Margot é assim. O seu filho Claude, criado com o lema de “nada a esconderâ€, segue a mesma tendência. A verdade é que a maioria dos personagens do filme são assim.

O filme trata de muitos temas, mas um me chamou a atenção em especial: de como podemos ser, ao mesmo tempo, tão próximos e tão estranhos de pessoas que amamos. No caso de Margot e da irmã Pauline, elas dividem uma série de vivências, segredos e mantêm um elo de ligação que apenas podemos nutrir com irmãos ou com amigos com quem crescemos juntos. É uma espécie de comunicação e de “sentir†que não precisa de palavras. Mas, ao mesmo tempo, elas viveram histórias e passaram por situações diferentes e que não foram compartilhadas entre as duas. O resultado é que estas experiências e sensações diferentes as separam, porque ajudaram a formá-las de maneira distinta, da mesma forma que as situações que elas compartilharam e que criaram o elo que as une.

Uma das primeiras - de muitas - cenas fortes e interessantes do filme é quando Claude caminha até a parte que separa os vagões do trem em que viaja com a mãe e começa a gritar. Essa vontade de gritar, de extravasar uma angústia reprimida, poderá ser sentida depois em quase todos os personagens. Pelo menos nos centrais: Margot, Pauline e Malcolm. É a velha história da briga entre a sinceridade e o jogo social de manter-se controlado. Todos são muito sinceros no filme, chegando, como eu disse antes, até ao ponto de serem algumas vezes cruéis - especialmente Margot. Mas, ao mesmo tempo, aos poucos vamos vendo como todos também dissimulam o que sentem, disfarçam, jogam “o jogo†que se espera que as pessoas joguem na sociedade. (Alessandra Ogeda – confira mais detalhes no blog Crítica (non)sense da 7Arte)