Crítica sobre o filme "Na Natureza Selvagem":

Edinho Pasquale
Na Natureza Selvagem Por Edinho Pasquale
| Data: 09/04/2008
Tem filmes que ficam na memória por algum tempo depois que a última filigrana da película passa na frente de nossa retina. Na Natureza Selvagem, o último trabalho do diretor Sean Penn, é um destes. Dias depois de ter terminado de ver o filme, ele continuaba ali, aparecendo na memória. Há muitas frases incríveis no roteiro, várias imagens idem. Na verdade, descobri depois, que o filme vai fazendo efeito conforme o tempo passa. E foi depois de uma certa distância temporal das imagens que eu percebi o quanto ele é bonito, o quanto ele trata de assuntos interessantes, como que vivemos em uma sociedade que dá vontade de escapar, algumas vezes. Mas que, ainda que tenhamos pavor das pessoas que vivem para consumir, são justamente as pessoas (incluindo estas, talvez) que façam a vida ter sentido. Então a verdade é que descobrimos o que o personagem principal de Na Natureza Selvagem descobre: de que o mais bonito está na Natureza, na nossa capacidade de sobrevivermos por nossa conta, sem supérfluos ou luxos ao nosso redor mas que, paralelo a isso, não é possível viver feliz sem compartilhar o que sabemos e o que vivemos.

Apenas dizer que Na Natureza Selvagem conta a trajetória de um jovem recém-formado em um caminho de auto-conhecimento, de auto-determinação e de busca por uma vida mais “selvagemâ€, de contato com a Natureza e de repúdio ao consumismo que vê no berço da sua família parece não resumir ao último trabalho de Sean Penn como diretor. E realmente o filme tem mais conteúdo que isso.

Gostei, sobretudo, da maneira com que a história é contada. Primeiro assistimos a Chris - ou Alexander Supertramp, como ele próprio passa a se chamar - realizando o seu sonho de chegar no Alaska. Depois que ele encontra um ônibus abandonado é que vamos sabendo como ele chegou lá. Então conhecemos o caminho que ele quase segue, depois que termina a faculdade, mas que acaba refutando. E sabemos, por exemplo, que ele abomina as mentiras que os pais contam, assim como o seu padrão de valorizar o dinheiro e não as pessoas ou a vida. E ele resolve tomar outra direção, totalmente contrária ao que todos planejam para ele. E aí o filme fala do “seu próprio nascimentoâ€, da sua “adolescência†como novo ser - agora “criado†por ele mesmo; de sua “família†e, claro, de sua lição de “sabedoriaâ€. É muito bonito acompanhar na vida adulta a evolução de um ser humano em busca da verdade, do amor, da liberdade. Outra questão muito presente no filme é a aflição que algumas pessoas “mais críticas†sentem com essa nossa sociedade consumista.

Merece um capítulo a parte a trilha sonora de Na Natureza Selvagem. Que trabalho maravilhoso o de Eddie Vedder neste filme! Ele realmente dá outro nível de beleza e de compreensão da história com suas composições. Lindo! E isso vale para todos os gostos, não apenas para os fãs do Pearl Jam (como eu). O trabalho de Eddie Vedder lhe rendeu o Globo de Ouro deste ano pela canção Guaranteed. O filme foi ainda indicado a dois Oscar: melhor edição e melhor ator coadjuvante para Hal Holbrook – não ganhou nenhum dos dois. Aliás, a interpretação de Holbrook como Ron Franz, o viúvo que quase adota a Chris, merece um destaque pelo tom emocionante e natural que ele consegue dar para o seu personagem. (Alessandra Ogeda – confira mais detalhes no blog Crítica (non)sense da 7Arte)