Crítica sobre o filme "Vale das Sombras, No":

Edinho Pasquale
Vale das Sombras, No Por Edinho Pasquale
| Data: 09/04/2008
Eu gosto de filmes corajosos. De roteiros que não se limitam a contar uma história, mas também a fazer crítica ou a nos fazer refletir sobre questões importantes. Ok, nem sempre temos “paciência†para ver filmes “pesadosâ€, intensos, questionadores. Algumas vezes nosso espírito pede mesmo uma comédia despretensiosa, uma história de amor (ainda que óbvia demais), um suspense ou terror de arrepiar ou um filme de ação que nos deixa “colados†na telona. Mas nenhum destes é o caso de No Vale das Sombras. Aqui o diretor Paul Haggis caprichou no roteiro e na direção para fazer uma importante crítica da Guerra do Iraque - ainda que a história tenha a ver com a primeira Guerra do Golfo - e, mais que isso, uma marcante crítica ao modo de vida dos Estados Unidos e aos problemas que uma guerra causa na essência das pessoas, das famílias e de um país. Por esse filme o ator Tommy Lee Jones foi indicado no último Oscar, mas perdeu a disputa de forma inevitável para Daniel Day-Lewis.

O curioso de No Vale das Sombras é que a cada aparição de um ator no filme eu tinha cada vez mais claro que se tratava de um belo projeto. Afinal, não é por acaso que atores interessantes como Susan Sarandon, Jason Patric, James Franco, Josh Brolin e Brent Briscoe, só para citar alguns, estão no filme praticamente em “pontasâ€, papéis secundários. E claro, não seria um filme qualquer que chamaria a atenção de Tommy Lee Jones e de Charlize Theron. Os dois, aliás, estão fantásticos em seus papéis. Para mim, mereceriam ser indicados a vários prêmios - ainda que não os ganhassem.

Mas voltando a história em si. Achei muito interessante como o roteiro do diretor Paul Haggis - baseado em uma história criada por ele próprio junto com Mark Boal - nos “enreda†em uma investigação policial um pouco fora do comum, deixando em “segundo plano†a questão familiar e de corrupção “da alma†provocada pela guerra (seja ela qual for). Claro que o segundo plano escrevi entre aspas porque eu realmente acho que as críticas e reflexões que o filme faz sobre estes temas nunca deixam de estar nos holofotes, ainda que não pareça ser a mola propulsora principal.

Sendo assim, é muito interessante acompanhar o desenrolar da investigação. A partir do ponto em que Hank descobre a verdade sobre o que aconteceu com o seu filho, entramos em um jogo de tentar descobrir, junto com os personagens principais, os culpados. E como diz o cartaz do filme, as vezes o pior não é descobrir a verdade, mas encará-la. A parte final da história realmente foi muito bem escrita. Hank descobre não apenas o lado “podre†da instituição que ele tanto prezava e admirava - a ponto de dedicar sua vida a ela -, mas descobre, principalmente, o quão podre está o sistema que mantêm e corrompe os soldados enviados para a guerra, assim como a podridão dentro de seu próprio cesto - e os erros que ele nunca poderá corrigir.

Só um ator como Tommy Lee Jones poderia interpretar tão bem esse pai que descobre tarde demais a verdade a respeito de seu filho, de si mesmo e dos valores pelos quais sempre lutou. A simbologia da bandeira invertida, para mim, foi a mais bonita a respeito da bandeira dos Estados Unidos nos últimos tempos. Realmente, aquele país precisa divulgar para o mundo que precisa de ajuda, que precisa que organismos externos entrem no país para salvar as pessoas racionais que ainda vivem lá do caos completo. E a crise a que me refiro se passa pela crise de consciências, do bom senso, nada de econômica ou algo do tipo.

Toda a narrativa do que aconteceu com Mike e das “brincadeiras†que os soldados faziam - inclusive a vítima - durante a guerra é de arrepiar. Depois a descoberta do pai do soldado sobre o momento em que o filho “perdeu a inocência†também é muito forte. Um filme realmente bonito, inteligente e com belíssimos trabalhos de roteiro, direção e atuações. Um conjunto que funciona. (Alessandra Ogeda – confira mais detalhes no blog Crítica (non)sense da 7Arte)