Crítica sobre o filme "Azul Escuro Quase Preto":

Edinho Pasquale
Azul Escuro Quase Preto Por Edinho Pasquale
| Data: 21/04/2008
Fazia muito tempo que eu tinha ouvido falar muito bem deste Azul Escuro Quase Preto. Antes de qualquer outro comentário, é importante dizer que este filme é difícil de resumir, porque apresenta muitas nuances e histórias paralelas e importantes. O fato é que o filme acaba realmente acertando ao abarcar de maneira tão natural em vários temas – até porque poderia ser um desastre tentar fazer isso.

Muitos podem ver a história como uma fábula sobre o destino ou sobre as surpresas que a vida nos dá. Mas mais que isso e, melhor, além disso, Azul Escuro Quase Preto é um filme que fala muitíssimo de família e de independência, de maturidade e de se descobrir a verdade sobre nós mesmos, ainda que para alguns pareça que tudo esteja tão claro.

Vejamos: a parte da família é muito bem desenvolvida pelos dois núcleos principais da história. Por um lado, a família de Jorge tem que lidar com as dificuldades de uma situação não-desejada - a doença de Andrés e a prisão de Antonio -, além de um histórico de “pobreza†e de marginação social. Afinal, Jorge cresceu vendo sua família sendo despreciada pelo entorno social por serem de classe mais baixa e, depois, o irmão passando pelo desprezo social - se bem que isso não é abertamente explorado no filme, mas se imagina - provocado por sua situação de ex-preso. Por outro lado, o núcleo familiar de Israel também passa por várias descobertas e testes, especialmente depois que ele flagra o pai, Fernando, em uma das suas “escapadasâ€.

Além dos temas familiares, os dois personagens principais de cada núcleo familiar também passam por fases de descobertas importantes. Jorge tem que confrontar a sua realidade com os seus sonhos para, depois, ser surpreendido com o que encontra buscando mais a fundo. O mesmo, mas de maneira diferente, ocorre com Israel, que descobre gostos e atrações até então reprimidas - ainda que, inicialmente, ele rejeite tão profundamente o que vê em seu pai.

Aliás, os espelhos dos filhos com os pais aqui são muito interessantes. Tanto Jorge quanto Israel rejeitam o que vêem em seus pais, negam parte do que lhes define como progenitores. Parece quase uma negação natural da fase adolescente de qualquer um mas, na realidade, essa negação vai mais além, até eles amadurecerem. Azul Escuro Quase Preto, aliás, nos conta um pouco isso, de como sempre somos um pouco “crianças†e, assim, muitas vezes negamos o óbvio, o que sabemos no fundo que é nosso também. No fim das contas, Jorge assume repetir os mesmos passos do pai, mas com independência. E Israel, por seu lado, assume também as suas semelhanças com o pai que sempre desprezou.

Fora estes grandes temas, o filme trata de outros paralelos e talvez menos evidentes. Por exemplo a relação de Jorge com Natalia e a descoberta que ele tem com Paula. Quando pára de negar a sua realidade, percebe que o que sentia por Natalia era algo que fazia parte de outro “hemisférioâ€, quase algo idealizado de uma vida que ele gostaria de ter e que não conseguiu almejar.

Ainda que o filme tenha muitas qualidades, ele não comove ou surpreende como outros filmes espanhóis, citando, por exemplo, Mar Adentro e Lucía e o Sexo. Mas com sua simplicidade, com um roteiro sem grandes complicações e uma direção firme, ainda que sem inovações, Azul Escuro Quase Preto convence. (Alessandra Ogeda – confira mais detalhes no blog Crítica (non)sense da 7Arte)