Crítica sobre o filme "Piaf - Um Hino ao Amor":

Rubens Ewald Filho
Piaf - Um Hino ao Amor Por Rubens Ewald Filho
| Data: 02/05/2008

É bom o Oscar® reservar lugar este ano na categoria de Melhor Atriz para Marion Cottillard, por uma das mais fantásticas interpretações que já vimos num filme biográfico. Já houve outras tentativas de retratar a cantora Edith Piaf (1915-63) no cinema, uma delas feita por Claude Lelouch (‘Edith e Marcel‘ - 1983), prejudicada pelo fato de que o ator central (Patrick Dewaere) se matou no inicio da filmagem. Nada se compara, porém, a este ambicioso filme que confirma o talento de um jovem realizador, Olivier Dahan, que fez antes Rio Vermelhos 2, e um Pequeno Polegar inédito por aqui.

Palmas para quem teve a idéia de chamar Marion para fazer o personagem. Afinal, ela nada tem a ver com a verdadeira Piaf, que era pequenina e frágil. Marion é uma bela mulher de luminosos olhos azuis, que é mais lembrada aqui como a namorada de Russell Crowe no recente Um Bom Ano (2006). Não se trata de uma imitação, mas de uma verdadeira encarnação, como se tivesse sido “cavalo†de Piaf, que “baixou†nela com toda intensidade. Na verdade, percebe-se a construção do personagem em expressão corporal e num excepcional trabalho de maquiagem.

O roteiro do diretor e da estreante Isabelle Sobelman é construído com muito rigor, de forma não linear, começando na infância paupérrima da heroína (na verdade, sua vida foi uma sucessão tão intensa de dramas e tragédias, que optaram por deixar algumas de lado, em particular seus anos de maior glória, quando ela foi responsável por transformar em astros seus amantes Yves Montand, Charles Aznavour, ‘Les Compagnons de la Chanson’ dentre outros). Depois alterna entre sua ascensão e decadência, deixando o mais forte para o final, que é justamente o romance passional que teve com o campeão mundial de boxe, Marcel Cerdan, que morreu em um acidente de aviação. Assim, o público começa a achar irritante aquela mulher mal-educada e até burra, mas, aos poucos, Edith vai conquistando o espectador, que está completamente ao seu lado nos derradeiros momentos.

Dahan não se furta a ter seus momentos de criatividade (como uma seqüência onde tira a voz da cantora para ouvirmos apenas a trilha musical, coisa inédita e que resulta muito bem. Noutra, na notícia da morte, tudo é feito em planos contínuos como se fosse um delírio). Acertou também em usar a voz da própria Piaf (remasterizada) com algumas intervenções de Marion (como fez Jamie Foxx em Ray).
O elenco de apoio não tem grandes destaques (Depardieu faz o gay que a descobriu, Emmanuelle Seigner uma prostituta que ajudou criá-la, Clotilde Courau sua mãe cantora de rua), a não ser pela irmã adotiva Momone (Sylvie Testud). Até porque é um show de Marion, que domina inteiramente o filme. Uma grande performance, que faz com que você saia do cinema cantando as músicas de Piaf.

Mas que não vai evitar que derrame algumas lágrimas, num dos finais mais emocionantes do Cinema. Não percam! (Rubens Ewald Filho na coluna Clássicos de 5 de outubro de 2007)