Crítica sobre o filme "Gattaca - A Experiência Genética":

Jorge Saldanha
Gattaca - A Experiência Genética Por Jorge Saldanha
| Data: 03/05/2008
Gattaca: A Experiência Genética foi um filme pioneiro – quando foi lançado, em 1997, a clonagem humana ainda era uma possibilidade remota, parecendo mesmo coisa de ficção científica. Atualmente, apesar de ainda não ter sido clonada nenhuma pessoa (que se saiba, pelo menos...), os avanços científicos que ocorreram na área já produziram clones de várias espécies de mamíferos superiores e mesmo a transferência de DNA de uma espécie para outra - comprovando na prática a viabilidade de tais técnicas serem aplicada a primatas, neles incluído o homem. Mas enquanto ainda hoje se debate as implicações éticas do uso da engenharia genética na medicina, Gattaca nos mostra um futuro próximo onde as pessoas são concebidas para serem geneticamente superiores – e aquelas que não tiveram essa sorte, ou seja, as que são equivalentes a nós, hoje, devem lutar contra o estigma de serem inferiores para conquistar uma posição relevante na sociedade. Como diria Vincent, é a discriminação possível graças à genética.

Estilizadamente montado e com uma narrativa ajustada e fluída, o filme impacta ainda hoje, com um senso de realismo que só aumentou graças ao espaço conquistado pela genética na mídia em geral. Isto graças, primeiramente, ao roteiro do diretor neo-zelandês Andrew Niccol, que com bom embasamento científico toca em vários tópicos que desde então vêm sendo de discussão pública em escala mundial, como a fertilização in vitro e a pesquisa das células–tronco, tudo à luz da questão dos direitos e liberdades individuais. E faz isto num sofisticado meio sci-fi que também envereda pelo caminho da investigação policial. Ajudam, também, os excelentes cenários e objetos de cena que evocam um futuro com um pé no passado, e seu elenco uniformemente brilhante – o trio principal Ethan Hawke, Jude Law (em seu primeiro filme) e Uma Thurman está excelente, e ainda temos o fenomenal Alan Arkin e o famoso escritor Gore Vidal, em atuação espantosamente ótima. Pelo conjunto de suas qualidades, Gattaca deverá continuar a provocar a reflexão mesmo quando o que o espectador estiver vendo na tela não diferir muito da realidade de seu mundo. Sem dúvida é um filme adiante de seu tempo, e que merece maior reconhecimento.