Crítica sobre o filme "Ouro de Nápoles, O":

Eron Duarte Fagundes
Ouro de Nápoles, O Por Eron Duarte Fagundes
| Data: 14/05/2008
O filme em episódios é uma característica do cinema italiano desde o neo-realismo. Às vezes é dirigido por vários diretores (cada um com um episódio), às vezes todos os episódios são dirigidos por um único cineasta. Em O ouro de Nápoles (L’oro di Napoli; 1954) é Vittorio De Sica quem dirige todas as histórias de que se compõe a produção; quatro anos depois de seu mais belo filme neo-realista, o preciso e comovente Umberto D (1951), De Sica exercita as sobras do realismo cinematográfico italiano: ainda estão ali os cenários cotidianos, as singelas histórias, o despojamento interpretativo, o visual fosco e até baço. Porém as coisas se pasteurizam bastante, perdendo o cinema de De Sica a força formal e temática de seus grandes anos.

De Sica utiliza bem as grandes estrelas italianas da época. Sophia Loren, seu eterno amor platônico, e Silvana Mangano. Sua visão do universo humano é agora mais complacente do que nunca: uma família que enche o saco de agüentar em casa um prepotente amigo viúvo, um casal que tem uma pizzaria e as trapalhadas dela com um amante causam um rebuliço em busca dum anel, um homem que casa com uma mulher qualquer para expiar a culpa duma ex-namorada suicida, o enterro de um infante napolitano, um velho jogador de cartas que desafia uma criança, um instrutor que atende para dar às pessoas dicas para resolver seus problemas. Enfim, a rosácea de De Sica pode ser simpática, mas no conjunto chega a ter problemas para funcionar junto ao espectador de hoje. (Eron Fagundes)