Crítica sobre o filme "Medo da Verdade":

Edinho Pasquale
Medo da Verdade Por Edinho Pasquale
| Data: 28/05/2008
Ben Affleck ganhou um Oscar® muito jovem, aos 26 anos. E o detalhe: não foi por seu trabalho principal, como ator, mas como roteirista. O Oscar® em questão ele ganhou ao lado de Matt Damon pelo roteiro de Gênio Indomável, em 1998. Nos nove anos posteriores, até 2007 – ano de produção deste Medo da Verdade, Ben Affleck se tornou conhecido por atuar em filmes como Dogma, Pearl Harbor, Demolidor, entre outros. Mas com Medo da Verdade ele volta a trabalhar como roteirista, o que lhe havia rendido o maior prêmio de sua carreira, e mais: agora ele também estréia na direção. Devo dizer que demorei um pouco para saber se tinha gostado ou não desse filme, assim como demorei para saber a nota que daria para ele. Para ser franca, gostei da produção. Mas acho que sinto, mais que tudo, que algo faltou ou se perdeu no caminho. Independente da minha opinião, contudo, este filme recebeu a projeção de ter ganho 17 prêmios – além de ter recebido uma indicação para Amy Ryan ao Oscar® de atriz coadjuvante (prêmio vencido por Tilda Swinton de Conduta de Risco).

Ben Affleck tenta fazer um trabalho cuidadoso desde o princípio, se pode perceber. E consegue, até certa parte. Achei que as “reviravoltas†no roteiro foram um pouco forçadas ou mal explicadas. Ok que ele quis nos surpreender a todos, mas alguém realmente acredita naquela história? Eu vejo pelo menos um milhão de alternativas acontecendo antes daquela exposta na tela. Alguém pode dizer: “sim, mas as pessoas fazem coisas burrasâ€. Pode até ser. Admito que a responsabilidade também não é toda dele, já que o roteiro que assina junto a Aaron Stockard é baseado no livro de Dennis Lehane - autor do ótimo Mystic River, que deu origem ao filme de Clint Eastwood - mas, ainda assim, achei que a maneira com que foi “conduzida†a história transformou ela em algo “burro demaisâ€.

Sei que o filme rendeu uma certa “polêmica†porque tem muita gente que vê semelhanças gigantescas entre a história de Medo da Verdade e o desaparecimento real da menina inglesa Madeleine McCann. Tudo bem que os pais da menina viraram suspeitos, que ninguém entende como ela pode ter desaparecido daquela maneira e tudo o mais, mas daí a achar que Medo da Verdade “antecipa†algo é exagerar muito, vamos! Tem gente que vê semelhanças físicas entre a menina do filme e Madeleine, sem contar que os ávidos por “conspirações†até vêem como um “sinal†o fato da atriz que interpretada a Amanda no filme ter um nome bem parecido com a menina da vida real - Madeline - ou de que as duas compartilham da mesma idade (4 anos). Ah, sem contar os sobrenomes… no filme, McCready, e na vida real, McCann. Mas vamos, fora as coincidências, é absurdo pensar que as histórias tem algo a ver. Afinal, enquanto no filme a garota “some†porque tem pessoas que acreditam que ela poderá ter uma vida melhor longe da mãe drogada, na vida real a hipótese mais forte é que os pais tenham matado a menina acidentalmente. Pelo menos é uma das hipóteses.

No fim das contas, para evitar problemas ainda maiores, os produtores do filme chegaram a anunciar que o filme teria sua estréia adiada por “por tempo indeterminado†no Reino Unido. Afinal, o caso real de Madeleine McCann rendeu tanta “comoção†e, principalmente, tanta exposição na mídia que o melhor mesmo é evitar um ataque público contra o filme.

Mas deixando as polêmicas exteriores à produção de lado, Medo da Verdade toca em assuntos delicados, como o sequestro de crianças, o maltrato ou a exposição a situações de risco deles por familiares, corrupção policial, entre outros temas. Gostei em especial da noção de “familiaridade†da dupla de detetives com o seu bairro… afinal, ninguém melhor que eles para conhecer como chegar à informação e quem buscar para conseguí-la. Fora isso, gostei também da noção de que alguns tem que pagar um preço alto para seguir a sua consciência, seguir o que acreditam ser o certo. E, ainda assim, ninguém nunca tem a certeza absoluta do caminho correto a seguir. Mas tentamos, pelo menos, acertar. O que, para mim, é o mais importante. O resultado em si não importa tanto, mas o importante é o caminho até ali, é a busca. Medo da Verdade fala um pouco disso e, justamente aí, acerta. O restante, na minha opinião, fica mal explorado.

Achei as interpretações do elenco, todas, sem exceção, medianas. É incrível dizer isso, mas até Morgan Freeman está “meia bocaâ€. Não sei, mas acho que grande parte da culpa foi dos roteiristas. É difícil um ator interpretar bem um papel e dizer umas falas em que não acredita totalmente. O irmão mais novo do diretor, Casey Affleck, é o que está um pouquinho melhor mas, ainda assim, faltou algo em sua interpretação. A única exceção à regra, na minha opinião, é o ator Ed Harris.

Interessante, para mim, todas as cenas do “circo da mídiaâ€. Realmente é de impressionar a modificação pela qual passa a personagem de Helene McCready, a mãe da menina - interpretada com eficácia por Amy Ryan -, quando está ou não exposta as câmeras de TV. Esse circo todo me lembra muito a maioria dos “grandes†casos de desaparecimentos ou de crimes muito expostos pela mídia - e, aqui sim, me lembrou muito o caso real dos pais de Madeleine McCann. (Alessandra Ogeda – confira mais detalhes no blog Crítica (non)sense da 7Arte)