Crítica sobre o filme "Vestida para Casar":

Edinho Pasquale
Vestida para Casar Por Edinho Pasquale
| Data: 12/06/2008
Todos sabem o que esperar de uma comédia romântica: encontros, depois desencontros, uma boa pitada de humor - que pode ser menos ou mais sarcástico, mais ou menos “pueril†dependendo do filme -, flerte, romances até um certo ponto “complicados†(talvez alguma troca de casais) e, por fim, encontros. A fórmula existe para agradar aos gostos familiarizados a ela e pouco se move além destas “premissasâ€. Vestida para Casar segue a regra e não inova, mas tem algo que anda faltando no mercado (pelo menos para o meu gosto): química. Ainda que seja uma típica comédia romântica, em tudo que isso quer dizer como óbvio, se trata de um filme com “buen rollitoâ€, como se diz aqui na Espanha. Os protagonistas tem charme e existe uma ou outra sacada boa salpicada pela história. Diferente de outras produções do gênero recentes – como P.S. Eu Te Amo -, é um filme que não cansa e que se mostra um passatempo leve e descompromissado. Diante de tanta xaropice no mercado, algo tão simples pode até ser prazeroso.

O resumo ficou meio grande, eu sei. Mas é que o roteiro de Aline Brosh McKenna resolveu “complicar†uma história de comédia romântica típica. Então, além dos típicos encontros e desencontros, assistimos no filme a sonhos, projeções de desejos, lutas por vencer “fantasmas†do passado, ambição, disputa entre irmãs, responsabilidade com a perda de uma mãe muito jovem… enfim, a lista é grande. O mais interessante, para mim, é que o “amaranhado†de elementos na história não ficou confuso e nem chato. Tudo vai se apresentando e se resolvendo naturalmente - ainda que conflitos -, como na vida de qualquer pessoa. Então o que poderia ser um dilema gigantesco e um problema na vida de Jane - organizar o casamento de sua irmãzinha mais nova com o homem pelo qual ela é “secretamente†apaixonada a vários anos - avança como ocorreria na vida de qualquer pessoa que não gosta de confrontos… ela vai guardando, vai engolindo, até que… Bem, não preciso contar.

O filme usa de um recurso bem típico em filmes do gênero: brinca com vários casais possíveis. Kevin se interessa por Jane que é apaixonada por George que se apaixona por Tess que não gosta de ninguém porque acabou de levar um pé na bunda… Alguém lembrou da poesia Quadrilha, do grande Carlos Drummond de Andrade? Pois é, por aí… Então existe bastante “joguinho†de “eu estou apaixonado por você que nem olha pra mim†e por aí vai. O que não deixa de ser interessante, porque na vida real, fora dos cinemas, isso também acontece… quantas vezes você estava tão concentrado/a em trabalhar, no cotidiano, em fazer festas com os amigos, etc. e tal que não notou um novo amor surgindo, mostrando a cara por detrás do muro? Na verdade, para o amor acontecer, todos nós sabemos, é preciso estar “abertoâ€, disponível para isso… pois então, um dos temas de Vestida para Casar é justamente esse. Afinal, Jane realmente adora casamentos ou prefere organizá-los para esquecer do seu próprio projeto de vida? Mas além deste tema, o filme trata de vários outros, como ambição. Tanto Tess quanto Kevin, a sua maneira cada um, são movidos por ambição… mas até um certo ponto. Lá pelas tantas eles perdem o “foco†de seus sentimentos originais e se vêem “modificados†por outros… ou pelo menos em parte modificados. Interessante também. Sinal de que há inteligência por detrás de histórias um tanto satíricas de amor, como é o caso desta.

O filme começa muito bem, obrigada. Toda a “apresentação†dos personagens, a correria de Jane para conseguir organizar dois casamentos, o interesse de Kevin por seu próximo “personagem†de reportagem, tudo isso funciona bem. Depois, quando entra em cena Tess, o filme esfria um pouco, porque cai demais no joguinho da “quadrilha†de amores. Ainda assim, tem bons momentos. E, mais que tudo, como eu disse antes, Vestida para Casar tem química… os atores principais todos tem carisma e convencem em seus respectivos papéis. E o importante para um filme do gênero: faz rir, é “bonitinho†e não cansa… melhor que muitos outros da mesma estirpe lançados recentemente.

Muita gente falou da interpretação de Katherine Heigl em Ligeiramente Grávidos, o primeiro filme de “destaque†que ela fez depois de se tornar conhecida - e premiada com um Emmy - por sua interpretação da personagem Izzie na série televisiva Grey’s Anatomy. Em comparação com aquele filme, para mim, ela está muito melhor neste Vestida para Casar. E parece que sua carreira no cinema está em plena ascensão, porque atualmente está em fase de pós-produção o filme The Ugly Truth, em que ela interpreta a personagem principal ao lado de Gerard Butler - outra vez em uma comédia romântica. A direção é de Robert Luketic, jovem diretor australiano elogiado por seu 21 – Quebrando a Banca.

Além de Katherine Heigl, gostei do humor da atriz Judy Greer em cada aparição em cena, além do carisma de James Marsden - que parece ter se convencido melhor de seu papel neste filme que em Encantada, em que está, em certa medida, “patéticoâ€. E logo que eu vi a Malin Akerman pensei: “Eu assisti algum filme recente com essa atriz…â€. Demorou dois segundos para cair a ficha: ela é a divertidamente irritante Lila, namorada/mulher de Ben Stiler em Antes Só do que Mal Casado). Mais uma vez ela interpreta uma “loira burra†ou, melhor dizendo, irritante neste Vestida para Casar… mas o bacana é que ela consegue fazer o papel com leveza, sem exageros ou, em outras palavras, convincente.

O filme teve um bom resultado de bilheteria: até o dia 25 de maio ele conseguiu, apenas nos Estados Unidos, arrecadar pouco mais de US$ 76,8 milhões. Não está mal… De crítica, por outra lado, ele não foi tão bem. Os usuários do site IMDb lhe deram apenas a nota 6,2. O Rotten Tomatoes publica 82 críticas negativas e apenas 53 positivas. Desta vez discordo dos críticos… e não porque seja um filme excepcional, mas pelo menos não é chato… o que já é muito.

Vestido para Casar é dirigido por Anne Fletcher. Este é o segundo filme da atriz, que estreou antes na direção com Step Up, um musical romântico que deu destaque para a carreira de Channing Tatum. Atualmente ela está filmando The Proposal, mais uma comédia romântica (haja propensão para o gênero, hein?) com Sandra Bullock e o protótipo de galã Ryan Reynolds. (Alessandra Ogeda – confira mais detalhes no blog Crítica (non)sense da 7Arte)