Por Jorge Saldanha
| Data: 14/06/2008
V de Vingança é uma produção dos irmãos Wachowski (os criadores da trilogia Matrix, aqui apenas roteiristas e co-produtores) dirigida por James McTeigue, que mesmo antes de sua estréia nos cinemas gerou polêmica por tratar de um assunto espinhoso, o terrorismo, e por ter um caráter abertamente anárquico e revolucionário que não poupa nem mesmo a Igreja - em uma cena, “V†liquida um Bispo pedófilo. A crÃtica mais politicamente correta procurou detonar com o filme, que teve sua estréia adiada em virtude dos atentados ocorridos no metrô de Londres em 2005. Com receio da repercussão negativa, o próprio Alan Moore, escritor da graphic novel na qual o filme se baseia, pediu para ter seu nome retirado dos créditos. Aqui no Brasil a principal revista de informação semanal publicou uma avaliação risÃvel, com um tom claramente polÃtico e falha em atender aos requisitos básicos de uma boa crÃtica: se, afinal de contas, o filme era bom ou ruim, se poderia agradar ao leitor/espectador, etc. A autora foi mais uma que se apavorou pelo fato do filme trazer como protagonista um "terrorista mascarado", e achou que o filme era ultrapassado por propor uma crÃtica ao "Sistema" - no caso, uma ditadura capitalista. Daà ela assumiu as dores da democracia e do capitalismo, e atacou o filme dizendo que ele não poderia ser feito em paÃses como China e Cuba. Como se o filme defendesse o comunismo ou ditaduras... além disso ela passou ao leitor informações "de extrema relevância", como a de que um dos irmãos Wachowski é travesti. Enfim, o texto em questão era tão ridÃculo que, já cansado da linha editorial da revista, cancelei sua assinatura. Infelizmente fatos deste tipo geraram uma injusta propaganda negativa para o filme, que traz em sua essência a defesa da liberdade e a luta contra a repressão, a intolerância e as ditaduras - sejam elas de esquerda ou direita. A verdade é que adoro V de Vingança, que na minha opinião, independentemente de suas qualidades (como um desempenho soberbo de Hugo Weaving no papel principal, baseado apenas na voz e expressão corporal) ou defeitos (uma trama um tanto truncada e amarrada), deve ser elogiado e prestigiado por ser um dos raros filmes-pipoca recentes que teve coragem de provocar, apresentar idéias (concordar com elas é outro departamento), de fazer com que o espectador pense - nem que seja um pouco. O filme até pode retomar um discurso que teve seu auge há 30 anos, mas isso porque sua fonte é uma obra do inÃcio dos anos 1980, quando a Inglaterra tinha um governo ultra-conservador e ainda havia ecos de produções cinematográficas da década anterior. Filmes que, sob o manto de "crÃticas ao Sistema", acabaram virando clássicos em gêneros diversos, tendo em comum um protagonista que burla o status quo para fazer o que acha certo, justo. E convenhamos, este caráter panfletário, de contestação, continua e continuará sendo atraente para as mentes mais idealistas. Liberdade Sempre!