Crtica sobre o filme "Traídos Pelo Destino":

Edinho Pasquale
Traídos Pelo Destino Por Edinho Pasquale
| Data: 19/07/2008
Tem alguns filmes que eu fico “alimentando” a curiosidade para vê-los há algum tempo. É como um bom feijão que você prepara… tem que primeiro escolher bem os ingredientes, depois preparar tudo e cozinhar lentamente. Pois quando um projeto me chama a atenção, fico com ele ali, guardado na memória, para quando estiver disponível eu assistí-lo com “fome”. Não sei exatamente o porquê, mas isso aconteceu com esse Traídos pelo Destino. Tinha ouvido falar do projeto há muito tempo e me interessei. Talvez pela Jennifer Connelly, que adoro, ou pelo Joaquin Phoenix ou pelo Mark Ruffalo, dois atores que eu passei a admirar com o tempo, conforme eles iam “amadurecendo” nas suas respectivas carreiras. Ou talvez porque tinha curiosidade de ver o novo trabalho do diretor irlandês Terry George, que filmou antes a Hotel Ruanda. Não sei exatamente a razão. O que eu sei é que eu vi o filme hoje e que gostei muito do que eu vi. O tema não é novo - claro -, mas o tratamento que foi feito dele e, principalmente, as interpretações do trio de atores principais é algo impressionante. O diretor e roteirista Terry George realmente faz um trabalho meticuloso e impressionante. Cada cena, cada ângulo e cada posição de câmera é planejado com uma idéia muito clara de efeito dramático. O diretor cuida para o filme ser, essencialmente, belo. Ainda que seja triste e duro, muitas vezes, mas é um filme belo. Pelo menos nas imagens e no cuidado técnico.

A história já vimos antes: um homem normal, como tantos por aí, acaba provocando um acidente fatal. Ele destrói a vida de uma família e, de quebra, a sua própria. Por outro lado, o casal que perde o filho se vê dividido entre o desafio de “seguir adiante”, tendo que cuidar de uma filha menor, e o pesadelo de ver que ninguém será responsabilizado pela morte anti-natural de “seu garoto”. Lá pelas tantas, o pai do menino acaba desconfiando da polícia e da aplicação da lei e resolva, por conta própria, buscar o culpado. E quanto mais o tempo vai passando, mais ele vai se enchendo de ódio e se aproximando da figura do justiceiro. Mas o diferente de Traídos pelo Destino com relação a outras histórias similares é que o filme não deixa a “peteca” cair em nenhum momento. Pelo contrário. De maneira muito natural ele vai fazendo a narrativa crescer cada vez mais até o ponto do espectador ficar aflito esperando “algo ruim acontecer”. Parece quase inevitável que a tragédia inicial da morte daquele menino não seja a única da história. Além do roteiro do diretor junto com John Burnham Schwartz (também autor do livro em que a história é baseada) ser muito responsável por esse ritmo potente do filme, as interpretações dos atores são fundamentais para isso.

Eu ouso dizer que Joaquin Phoenix nunca esteve tão bem em um papel quanto neste filme. Sim, ele já fez grandes trabalhos antes, mas não vi uma interpretação tão poderosa quanto como Ethan Learner. Natural, sem vestir estereótipos, ele vai se transformando com o tempo de uma maneira incrível e perfeitamente compreensível. Jennifer Connelly também está maravilhosa em seu papel, ainda que o filme seja realmente dos dois atores principais. Mark Ruffalo chega a dar nervoso no papel de um pai que luta para viver os primeiros momentos bons ao lado do filho enquanto se vê corroído pela culpa. Tem horas que você tem vontade de bater nele por sua covardia e tem horas que você entende pelo que ele está passando. A atriz Elle Fanning acaba aparecendo pouco na história, mas também faz um belo trabalho. Aliás, a menina, que logo mais, dia 9 de abril, completará 10 anos, para mim é uma das melhores trabalhando no cinema na sua idade. Todos os filmes que ela fez até agora ela consegue uma interpretação emocionante e equilibrada. Ah, e para quem pensou, “Mas ela é parente da Dakota Fanning, a menina de Chamas da Vingança e O Amigo Oculto?”, sim ela é a irmã mais nova de Dakota. Todos os demais atores no filme são coadjuvantes, incluindo Mira Sorvino. Ainda que todos os demais sejam eclipsados pelos atores principais, ela e o menino que interpreta o seu filho, Eddie Alderson, estão bem.

O que eu achei impressionante do filme é como ele não escapa do que é mais viável em histórias assim: um atropelamento fatal com fuga dificilmente tem solução. Exceto, claro, se alguém tem tempo de anotar a placa ou o tipo certo do carro. No caso desta história, o fato do motorista ser um advogado habituado a processos criminais o ajudou a “acobertar” a única evidência que poderia denunciá-lo: seu automóvel. Ainda que ele tenha dado várias pistas de insegurança e ter ameaçado se entregar, a verdade é que ele não seria descoberto nunca se não fosse a casual proximidade de sua ex-mulher com a outra família - no caso a personagem de Mira Sorvino era professora de piano de Emma e se aproximou mais do outro casal após a perda de seu filho. Impressionante o final.

Como disse anteriormente, quase todos os outros atores do elenco, com exceção de Phoenix, Connelly e Ruffalo são coadjuvantes. Ainda assim, destaco a interpretação de Antoni Corono como o Sargento Burke, aparentemente eficiente, controlado e, como quase todos os policiais, um pouco cínico. Também está bem em seu pequeno papel Gary Kohn como o marido de Ruth, Norris Wheldon. A hora que ele recebe Dwight em casa na noite em que eles estão fazendo uma festa chega a te dar coceira, porque você só fica esperando a hora da “confusão”.

Como falei antes, gostei do cuidado técnico do filme. Por isso destaco a direção de fotografia muito competente de John Lindley e a trilha sonora precisa de Mark Isham. A edição de Naomi Geraghty também merece crédito. A história se passa em Connecticut, onde o filme realmente foi rodado - mais precisamente nas cidades de Easton, Fairfield e Stamford. Para quem achou interessante o parque que aparece na produção, ele se chama Lake Compounce Family Theme Park e fica em Bristol, Connecticut. (Alessandra Ogeda – confira mais detalhes no blog Crítica (non)sense da 7Arte)