Crítica sobre o filme "Plano Brilhante, Um":

Edinho Pasquale
Plano Brilhante, Um Por Edinho Pasquale
| Data: 25/07/2008
Histórias de grandes assaltos, de ações ousadas de roubo, não faltam na história do cinema. Há desde clássicos como Rififi e Golpe de Mestre até filmes mais recentes como O Assalto, O Plano Perfeito e a “grife†Onze Homens e um Segredo (desde esse clássico, de 1960, até os recentes filmes dos anos 2000). Um Plano Brilhante busca contar um assalto destes “espetaculares†de uma maneira menos usual, desta vez trazendo como narradora da história uma das pessoas envolvidas - não exatamente a protagonista ou, melhor dizendo, o “cérebro†da ação. Levando em conta a época em que a história se passa, anos 60 em Londres, quando o país ainda estava mergulhado em uma sociedade que praticamente excluia a mulher dos grandes “círculos†sociais, o filme se torna interessante. Mas fora esse fator, Um Plano Brilhante se mostra quase um trabalho de dois homens sós: Michael Caine e o diretor Michael Radford. O primeiro por mais uma atuação digna de palmas, e o segundo por uma direção que consegue prender a atenção do público até o final.

O começo bem comicinho do filme é meio duvidoso… afinal, ver Demi Moore tão “envelhecida†artificialmente - ao ponto de parecer um bocado falso o efeito - não é a cena mais convidativa de todas. Assim como as primeiras frases da repórter-alpinista. Mas quando o filme “volta no tempoâ€, para a Londres dos anos 60, percebemos que o tom da narrativa muda. Começando pela sequencia bem filmada da rua até a entrada da personagem de Laura Quinn em seu emprego - dominado por homens. O diretor indiano Michael Radford começa a mostrar o seu bom trabalho. Outro detalhe importante desta sequencia é a primeira “entrada†mais efusiva da trilha sonora assinada por Stephen Warbeck.

O filme trata do roubo de diamantes, mas não apenas disto. Aborda os temas da ambição, da vingança, da lealdade a uma empresa ou a uma filosofia de vida. Também fala da descoberta de uma pessoa de valores mais nobres do que o dinheiro ou a posição social. Claro que tudo isso diluído na trama de ação e de certo suspense. A verdade é que o roteirista Edward Anderson conseguiu equilibrar bem os vários temas sem tornar o filme chato ou com cara de “filosóficoâ€. Na verdade, em teoria, é apenas um filme de ação - mas com elementos adicionais.

Demi Moore está bem em seu papel, ainda que eu sempre ache ela um pouco em um tom de “mais do mesmoâ€. Michael Caine, por outro lado, está perfeito. Realmente é muito difícil ver esse ator em um filme sem dedicar-se totalmente a seu papel. Outras pessoas do elenco que merecem destaque são Lambert Wilson como o investigador da empresa seguradora Finch; Nathaniel Parker como Ollie, o filho, herdeiro e braço direito do magnata e dono da empresa de diamantes MKA (o veterano e maravilhoso Joss Ackland). Aliás, o jogo de cena entre Laura e Finch é um ponto interessante do filme. Lembra um pouco outras histórias similares de atração entre ladrões e investigadores.

Gostei também da direção de fotografia limpa e ao mesmo tempo com estilo de Richard Greatrex - que usou bastante as cores azul e cinza, além de valorizar o branco, em seu trabalho (o que deixou o trabalho ainda mais com “cara†londrina, eu diria); da edição de Peter Boyle; e do figurino - que não consigue saber quem foi a pessoa responsável.

Mas para quem busca um pouco de realismo em filmes assim, devo admitir que a forma com que Mr. Hobbs consegue realmente limpar o cofre é um bocado absurda. Alguém realmente acredita que ele poderia dedicar horas e mais horas do seu tempo dentro da empresa para fazer tudo aquilo ao invés de estar fazendo o seu serviço? Por mais que ele fosse realmente pouco vigiado, mas convenhamos que seria impossível algo assim. Além do mais, da primeira vez que ele entrou no cofre ele só não foi pego pelas câmeras de vigilância porque o guardinha era um comilão… mas ele teve a mesma sorte em todas as outras vezes em que fez o mesmo caminho? Ok que ele não precisava das outras vezes colocar o código e tal, mas mesmo assim… bueno, a verdade é que também não dá para esperar realismo ou uma lógica legítima de filmes assim, não é mesmo? Pelo menos nos filmes modernos do gênero.

Um Plano Brilhante foi filmado em Londres, em Luxemburgo e na França. Se trata de uma produção do Reino Unido e de Luxemburgo. O filme teria custado US$ 20 milhões e arrecadou, até duas semanas em cartaz nos Estados Unidos, pouco mais de US$ 576,5 mil. Pouco, muito pouco. Parece um filme que será jogado em segundo plano.

Ainda que ela não seja um grande destaque do filme, mas tenho que admitir que é a primeira vez em muito tempo que vejo Demi Moore fazendo um trabalho decente em uma produção - mais equilibrada entre as nuances que o papel exige de uma mulher ambiciosa, provocante, inteligente e que teme ser apanhada. (Alessandra Ogeda – confira mais detalhes no blog Crítica (non)sense da 7Arte)