Crítica sobre o filme "Jogo de Vida ou Morte, Um":

Edinho Pasquale
Jogo de Vida ou Morte, Um Por Edinho Pasquale
| Data: 25/07/2008
Um Jogo de Vida ou Morte entrou na minha lista de filmes a serem assistidos por algumas razões. Atrativo número 1: a dupla de atores inglesas que faz um legítimo e intenso duelo de personalidades e dúbias intenções do primeiro ao último minuto do filme. Atrativo número 2: direção de Kenneth Branagh, que para mim sempre foi - e continua sendo - um dos melhores atores/diretores de sua geração. Este filme é uma refilmagem com pontos muito positivos e alguma “estranhezaâ€. E para os interessados em assistir, é importante que tenham em mente um detalhe importante: Um Jogo de Vida ou Morte é bom, realmente, mas está centrado apenas nos dois atores principais… por isto acho que ele não deve ser visto por pessoas que “necessitam†de muita ação ou de várias histórias para não dormir durante o tempo de projeção, já que ele realmente tem um ritmo bastante “lentoâ€.

O cartaz de Um Jogo de Vida ou Morte já sugere um “duelo†entre os protagonistas… mas a verdade é que o filme me surpreendeu um pouco pelo fato de que se trata apenas disto, de um duelo entre os dois. Com isto não quero dizer que o filme seja menos interessante, não. Até porque Michael Caine e Jude Law dão um show de interpretação - muito mais o primeiro que o segundo, na minha opinião, porque Jude Law acaba caindo em alguns trejeitos bem estereotipados lá pelas tantas.

Bem, mas o que eu quero mesmo fazer é um pequeno alerta, porque este é um filme de dois atores. E ponto. E como a história toda se passa na casa do escritor, ele também não é um filme com muito “movimentoâ€. Na verdade, se trata de um longo jogo de xadrez entre os dois homens em cena. Isso significa qualidade de atuações, claro. E também um importante acerto em questões técnicas como a direção de fotografia (fantástica, na verdade) e a direção de arte.

No fundo, o filme realmente lembra uma peça de teatro. Algo que, olhando para o histórico de Kenneth Branagh, se pode dizer que é sua especialidade - junto com Shakespeare. Mas, por mais paradóxico que isso possa parecer, notei também que Sleuth se distancia da linguagem teatral tão peculiar no trabalho de Banagh. Explico: ainda que toda a história se desenvolva com poucos atores (dois, neste caso) e num único cenário - ainda que dividido em mais de um “espaço cênico†-, ou seja, características comuns no teatro, o filme se torna interessante justamente por utilizar técnicas específicas do cinema. Entre elas, o “exagero†de closes, os cortes abruptos entre os distintos personagens e, para minha surpresa, uma certa “câmera ausente†(parada em um lugar, sem necessariamente acompanhar os atores) que outros diretores estão habituados a usar, mas que é algo novo para Branagh. Resumindo: o filme parece uma peça de teatro, por um lado, mas escancara as qualidades do cinema, por outro.

Feitos estes comentários, vamos ao que interessa: a história e como ela se desenrola. Desde o princípio você sabe que algo de errado está acontecendo. Ou melhor: que algo de MUITO errado vai acontecer. Os diálogos inicialmente sem sentido vão ganhando cada vez mais lógica e tudo leva a crer que não ocorrerá o melhor em cena. Até aí, tudo bem. Eu diria que até o fim do “primeiro ato†da história, do jogo entre os personagens, tudo vai bem. Mas a partir daí… Não comentarei detalhes para não estragar as “surpresasâ€, mas posso adiantar que as “viradas†no roteiro acabam sendo bastante previsíveis.

Mas o melhor da história é realmente a constante troca de papéis entre os dois de quem manipula e quem acaba sendo manipulado. Ainda que, no fundo, sempre ficou claro quem era o “forte†da história. O duelo é interessante mas, para mim, longo e previsível demais. Os dois primeiros “atos†foram bastante fáceis de prever… o último, talvez, um pouco menos. Ainda assim, a história não causou o impacto que eu achei que causaria.

No fim das contas, o filme vale a pena. Tem ótima direção, troca de diálogos bem interessantes - ainda que algumas exageradamente nonsense -, uma direção de fotografia exemplar de Haris Zambarloukos, um trabalho igualmente poderoso de direção de arte de Celia Bobak, e uma trilha sonora cuidadosamente selecionada (e clássica) para dar o tom exato do “drama†feita por Patrick Doyle.

Para resumir, o filme é bom, mas não é excelente. Não faço nenhuma questão de filmes que fujam do padrão dele, ou seja, que tenham mais atores ou mais cenários. Tanto que sou fanática por Festim Diabólico e por Disque M para Matar, duas obras-primas de Alfred Hitchcock - ambos ambientados em um único cenário. Mas o problema de Um Jogo de Vida ou Morte é que ele não me convence de todo com seus personagens. Primeiro que eu não acho que Milo seria tão “inocente†a ponto de cair nos “contos†seguidos de Andrew. E depois que eu acho que o filme perde um bocado de força ao buscar tantas reviravoltas na história. O problema do roteirista que tenta isso é quando ele não consegue surpreender - o que se passa com este filme.

Um Jogo de Vida ou Morte é uma refilmagem, originário do filme homónimo de 1972 dirigido por Joseph L. Mankiewicz. Aliás, foi o último filme do diretor. Naquela época, o roteiro foi assinado por Anthony Shaffer, o autor do livro que rendeu a adaptação cinematográfica. Para falar a verdade, fiquei curiosa para ver o filme original - para saber o quanto a história pode ser diferente deste segundo. O curioso é que no filme de 1972 Michael Caine interpretou Milo Tindle. O personagem de Andrew Wyke foi assumido pelo astro Laurence Olivier. Não assisti ao original, mas já notei que ele tem algo de diferente: entra em cena, com papéis importantes, uma dupla de detetives então interpretados por Alec Cawthorne e John Matthews. Realmente diferente da versão de 2007.

Fui atrás de mais informação sobre o autor Anthony Shaffer e descobri, por exemplo, que ele era irmão gêmeo do conhecido autor teatral e escritor Peter Schaffer e que escreveu, além de Sleuth, os roteiros de Frenesi, de Alfred Hitchcock, e de O Homem de Palha, dirigida por Robin Hardy). (Alessandra Ogeda – confira mais detalhes no blog Crítica (non)sense da 7Arte)