Por Eron Duarte Fagundes
| Data: 30/07/2008
O sonho, ou tom pesado dos pesadelos, é a matéria de que está formado O discreto charme da burguesia (1972), o antepenúltimo filme da carreira do cineasta espanhol Luis Buñuel. Como sempre, Buñuel joga com o absurdo da situações do cotidiano para dissecar o comportamento humano e suas fragilidades, como os maneirismos, a hipocrisia, a violência.
Um grupo de amigos tenta reunir-se para jantar, mas nunca consegue. Buñuel enovela seu filme, vai acumulando situações que se repetem e o tema central é a necessidade deste encontro para jantar. A brutalidade dos sonhos invade a suavidade do cotidiano burguês, e a complexidade formal inclui a utilização do sonho dentro do sonho. Militares e policiais trazem a violência para dentro das habitações burguesas, desajustando o cavalheirismo dos homens e a elegância das mulheres.
Enfim, umas das tantas demonstrações da mestria do estilo de filmar de um dos grandes cineastas da história do cinema. (Texto escrito em 15.06.1991 por Eron Fagundes)