Crítica sobre o filme "Stroszek":

Eron Duarte Fagundes
Stroszek Por Eron Duarte Fagundes
| Data: 30/07/2008
Em Stroszek (1977) o cineasta alemão Werner Herzog constrói uma ponte da civilização moderna que vai do universo alemão, muitas vezes brutal e mecânico, ao universo americano, descrito como um delírio sonhador de que não está ausente a miséria física e moral. Herzog é bastante preciso e cortante ao manipular o lado sombrio destes dois mundos abrangidos por seu filme.

Entre os trabalhos rodados por Herzog nos anos 70, Stroszek parece ser o mais objetivo e claro, tanto quanto pode ser clara uma narrativa cheia de sutis enigmas como esta; primeiramente, Stroszek prende-se aos tempos contemporâneos, enquanto filmes como O enigma de Kaspar Hauser (1974), Coração de cristal (1976), Aguirre, a cólera dos deuses (1972) e Nosferatu, o vampiro da noite (1978) se estendiam em metáforas históricas um tanto quanto intrincadas.

Bruno S., o protagonista, sai da prisão no início do filme; fora preso por ser alcoólatra. É um dos tantos derrotados que Herzog devassa com sua câmara visionária e sempre colocada entre o perverso e o tocante. Bruno, derrotado na implacável Alemanha, junta-se a uma meretriz e a um vizinho músico; os três decidem sair em busca do sonho americano, a pátria com a qual todo europeu destruído sonha cedo ou tarde. Os Estados Unidos para Bruno e seus acompanhantes equivalem àquilo que foi o mítico El Dorado para Lope de Aguirre em Aguirre, a cólera dos deuses.

Mas a América sonhada por Bruno vira um inevitável pesadelo. Ali ele perde sua esposa, sua propriedade é leiloada e seu carro pega fogo. Destroçado em dois continentes, Bruno vai afinal enfiar-se num teleférico, onde o delírio sonoro de galinhas dançantes vai transformar sua desgraça num absurdo parque de diversões. O ciclo da derrota humana, eis o que tem interessado ao olho cru e mau de Werner Herzog. (Texto escrito em 18.02.1980 por Eron Fagundes)