Crtica sobre o filme "Olho do Mal, O":

Jorge Saldanha
Olho do Mal, O Por Jorge Saldanha
| Data: 04/08/2008
É notório que há tempos Hollywood sofre de uma grave crise criativa, que leva estúdios e realizadores a buscarem inspiração em quadrinhos, games e mesmo nos próprios filmes, neste caso na forma de remakes de realizações antigas ou produzidas em outros países. O gênero que talvez mais tenha se desgastado foi o do suspense/terror, o que acabou levando à onda de refilmagens de filmes asiáticos do gênero, originando títulos made in America como O Chamado, O Grito (para mim o melhor dessa leva) e Água Negra. A bola da vez é esta refilmagem do filme chinês The Eye, dirigido pelos irmãos Pang em 2002. E aí já começa o problema: a temática do original já é muito semelhante a O Sexto Sentido, e para piorar ano passado foi lançado outro filme americano muito semelhante, o fraco Luzes do Além. Isso sem lembrarmos outros filmes que lidam com espíritos e que são muito melhores, como A Espinha do Diabo, Os Outros e o recente Orfanato. Ou seja, a falta de originalidade já no nascedouro de O Olho do Mal, aliada à falta de inspiração de seus roteiristas e diretores, liquida qualquer expectativa de vermos nele algo de maior interesse.

Apesar de buscar um conceito pseudocientífico (outro recurso comum atualmente, mais detalhe na descrição dos extras), o filme entra na mais desvairada fantasia ao narrar a história da violinista cega Sydney (Jessica Alba, bonita como sempre mas totalmente deslocada no papel) que, ao receber as córneas de uma vidente mexicana, passa a enxergar espíritos e formas sinistras, estas, os “Homens das Sombras”, que nada mais são que os mensageiros da morte que vêm levar as almas para o além. Mas este novo dom de Sydney tem um propósito maior: como num filme de Shyamalan, o roteiro constrói as situações de modo a que, no final, a protagonista pratique um ato heróico. Até que cheguemos lá, temos sustos que vêm principalmente das visões das circunstâncias em que ocorreram as mortes dos fantasmas (suicídios, incêndios, atropelamentos, etc.) e das aparições das tais sombras monstruosas, tudo via de regra acompanhado por sons estridentes ou estrondosos – na verdade a causa real do susto, pelo menos se você tiver um bom home theater.

Fora esta premissa que por si não é nada original, o filme tem pouco a oferecer. Os personagens, começando por Sydney, são unidimensionais, as “surpresas” da trama são óbvias e os sustos são, para dizer o mínimo, medíocres. Os bons títulos do gênero fornecem pelo menos uma cena ou susto memorável, mas aqui você não encontrará nada disso. O Olho do Mal é um claro exemplo de que o gênero anda muito mal das pernas, e que as refilmagens asiáticas já deram o que tinham que dar. Um verdadeiro criador do gênero sabe que, para assustar ou verdadeiramente afetar o espectador, não basta um “BÚÚ” acompanhado de música (aqui a cargo de Marco Beltrami) ou sons estrondosos. Talvez isto baste para a maior parte do público-alvo de um filme desses – adolescentes que vão ao cinema procurando qualquer desculpa para se agarrarem nos namorados (as). Mas para adultos ou quem procura algo mais, ou seja, um filme que verdadeiramente perturbe, temos mais um suspense previsível (e, conseqüentemente, chato), com sustos óbvios e sem gore. Como um mero passatempo O Olho do Mal é inofensivo – não ajuda e nem prejudica com sua obviedade. Mas se você quer algo que realmente provoque e assuste, procure os filmes baratos, independentes, de realizadores ainda desconhecidos mas criativos. Esta sempre foi a fonte que injetou sangue novo e originalidade ao gênero.