Por Jorge Saldanha
| Data: 04/08/2008
Já é lugar comum, quando se fala de Californication, dizer que uma série que começa com uma freira se oferecendo para fazer sexo oral dentro da igreja tem que ser especial. E, mesmo que esta primeira seqüência do episódio piloto não passe de um sonho do personagem de David Duchovny (também um dos produtores do programa e ganhador do Globo de Ouro pelo papel), ela já sinaliza o tom transgressor, sarcástico e erótico do que virá a seguir. Mas isto, por si, não é uma pista de outras qualidades que a série, ao longo desta sua curta primeira temporada (apenas 12 episódios de meia hora), exibiu. Se o piloto já chega trazendo profanidade, sexo e violência, também nos deleitamos com uma faceta que Duchovny exercitava de forma apenas secundária no papel que o consagrou, o do Agente Fox Mulder na cultuada série Arquivo X. Duchovny está espantosamente natural na pele de Hank, e nos faz rir mesmo nas situações mais perversas que se mete – não raro, vividas em pleno ato sexual.
O desempenho de McElhone, por sua vez, é eficaz para convencer de que ela é o amor da vida de Hank, claramente o elemento estabilizador de sua vida que ele deseja ardentemente recuperar. Esta relação revela ser, desde cedo, o núcleo da série, que inclui o relacionamento de ambos com sua filha Becca. A atriz de 14 anos que a interpreta, Madeleine Martin, é uma revelação – ela está em pé de igualdade com seus colegas de elenco bem mais experientes. Outro achado é a jovem Madeline Zima (vinda da série The Nanny), cuja Mia conquista o espectador com sua icônica nudez e o soco inesperado que dá em Duchovny. Evan Handler, como Charlie, completa o núcleo central de personagens, e seu relacionamento S&M com a secretária rende momentos impagáveis.
Aliás, é interessante o modo como o sexo é retratado em Californication – ele normalmente envolve situações complicadas (socos e vômitos na cama são exemplos), é encenado no estilo soft-porn – ou seja, no estilo da série Nip/Tuck, só que além de Duchovny mostrar a bunda, as atrizes (exceto McElhone) também exibem generosamente seus seios – mas sempre num tom leve e tendendo ao humor. Mas para os que se ofendem facilmente com sexo às claras e transgressões, sugiro que assistam outro programa. De qualquer modo Californication, produzido e exibido nos EUA apenas pelo canal pago Showtime (daà sua ousadia), é um inesperado oásis na mesmice televisiva norte-americana, felizmente recompensado com uma recepção muito favorável do público. No fundo traz dramas e tópicos humanos comuns a tantas outras séries contemporâneas, mas a forma como é (muito bem) escrita a torna extremamente divertida e, sim, saudavelmente transgressiva. Que venha a segunda temporada.