Crítica sobre o filme "Awake - A Vida Por um Fio ":

Wally Soares
Awake - A Vida Por um Fio Por Wally Soares
| Data: 10/08/2008
Difícil de se avaliar quando observado por dois pontos de vistas diferentes, "Awake" marca a estréia de Joby Harold no roteiro e na direção e, evidentemente, nota-se uma certa inexperiência ao desenrolar da história. Tanto em questões narrativas quanto em questões lógicas. Iniciando-se como um romance previsível (casal esconde seu amor um por outro pela suposta reprovação da mãe), o longa de Harold é interessante por ir desencadeando certas idéias boas ao longo do caminho, tentando entregar um passado mais consistente ao seu personagem principal. Um dos grandes problemas aqui, porém, é a falta de fixação em uma idéia. Harold pula de uma premissa para outra abruptamente. O desenvolvimento do filme, portanto, é um que deixa a desejar. Com 84 minutos de duração apenas, é perceptível como a desenvoltura de toda a sessão poderia ter atingido um grau de excelência maior se os fatores externos e internos do roteiro fossem mais bem tratados. Por isso, ao pularmos do romance para o suspense e deste para o melodrama, nos sentimos mal situados na condução. Principalmente quando nem tudo soa verrosímil o suficiente.

O filme toma como base um fato conhecido (e erroneamente divulgado para promover o filme) de pacientes que acabam não dormindo durante a cirurgia quando anestesiados. Depois de toda a preparação, entramos nesse ambiente hospitalar e vemos tal fato acontecer com nosso protagonista. Nesse meio tempo, aspectos referentes à verossimilhança do hospital soam em vezes deslocados e fica uma incerteza tremenda ao constatarmos que o personagem não só parece assistir a cirurgia, mas senti-la. Um pouco mal explicado durante a projeção. De repente ele está gritando (e muito mal) de uma dor que teria que ter sido agonizante e insuportável. Mas a tensão é mínima (mesmo que existente) e o diretor falhou ao entregar à audiência a angústia do personagem. A partir dessa idéia mal utilizada, a trama toma rumos inesperados. Nesse sentido, confesso ter sido enganado e pego de surpresa. Os revira-voltas apresentados são os mais divertidos possíveis. Mas a surpresa dá lugar ao absurdo. Em filmes espetaculares como esse, onde acontecem fatos e situações elevados ao extremo, é necessária uma autenticidade para fazermos acreditar neles. "Awake", por sua vez, aspira quase sempre um ar de artificialidade debilitante. Nesse aspecto, o elenco foi fundamental para a tal superficialidade. O protagonista Hayden Christensen faz de seu personagem uma caricatura desprovida de emoção verdadeira e parece entalado, sem vida. Ao seu lado, a sempre bela Jessica Alba continua mostrando um talento bem frívolo, também não adicionando em nada à sua personagem. Surpreendente é ver o sempre excelente Terrence Howard em um papel também bastante fraco em expressividade. Pode ser que apenas Lena Olin consiga se salvar, em uma atuação até certo ponto autêntica. Olin conseguiu nos fazer acreditar na sua personagem até quando nós sabíamos do absurdo por trás de seus atos. Nesse aspecto, os furos do roteiro vêem à tona, irritados pelas constantes revira-voltas malucas. O ato da personagem de Olin ao fim revela uma falta de inteligência quanto à cuidados médicos e biológicos, que não ajuda quando nem ao menos os elementos presentes dentro da sala de cirurgia soam reais, como a própria cirurgia.

Em outras palavras, parece um trabalho feito ás pressas. Falta de pesquisa, tecnicamente falho e detalhadamente errôneo. Para quem não possui o intuito de analisar tais elementos durante a sessão, se deliciem com a curta duração cheia de surpresas e divertimento. Pouca criatividade foi adicionada, sendo um bom exemplo apenas uma cena cercando o subconsciente do personagem, a pessoa onde ele encontra submerso nesse subconsciente e os aspectos teatrais que aqui foram bem filmados. Dadas as surpresas, portanto, o desfecho é praticamente o que prevíamos desde o início e somos deixados com uma impressão bem fraca da sessão. O filme é logo esquecido. Perceber, portanto, o potencial do roteiro é entristecedor quando o filme em si é analisado. Certas idéias tinham tudo para serem geniais, mas Harold estava ocupado demais entregando revira-voltas para perceber isso. O longa é, por isso, recomendável para quem não leva mais para o lado técnico, cujo intuito é apenas se divertir e não mais lembrar do que acabou de ver. O entretenimento existe claramente, a maturidade cinematográfica, não. (Wally Soares – confira seu blog Cine Vita)