Crítica sobre o filme "Chamada Perdida, Uma":

Wally Soares
Chamada Perdida, Uma Por Wally Soares
| Data: 14/08/2008
"Será que essa onda de ligações mortais possui uma mesma fonte? Existe algo em comum entre as vítimas?" Ou então a sinopse da contra-capa do filme nos questiona. As repostas são simples: A fonte é Hollywood. As vítimas, nós pobres amantes da sétima arte. A chamada infelizmente não está perdida, mas o cinema atual que se põe em grande risco quando tais chamadas mortais são indevidamente encarregadas à abordarem as salas de exibição mais próximas. O vírus da ruindade então se espalha. Lançado quase que simultaneamente que outras duas refilmagens de filmes de terror orientais: os também péssimos irmãos O Olho do Mal e Imagens do Além, o filme aqui conduzido por um francês é um sofrível exercício em suspense e uma tremenda abundância de tiques hollywoodianos do gênero, sejam estes os incontáveis estereótipos, os sustos fáceis, a falta de atmosfera e uma pobre fantasma assassina de menos de 10 anos.

Se o filme japonês de Takashi Miike é bom, não posso dizer, mas é notado um potencial formidável quanto à premissa do filme, que por sua vez entra com conflito direto à decepção quando constatamos que ao ter começado a assistir nos metemos em mais uma enrascada trágica. O filme é sobre uma maldição telefônica que vai se espalhando de celular em celular, deixando chamadas mortais com os dados de sua morte e matando aos poucos jovens desmiolados. Incrível como o filme aborda superficialmente e de forma tão rasa as providências tomadas pela comunidade para evitar uma morte quase certeira. Uma cena mostra vários retirando o nome deles do celular da outra para evitar serem os próximos chamados. Porém, nenhum dos já afetados pela chamada possuem consciência para deletarem por conta própria. Chama-se péssima construção de personagem e zero consciência lógica.

A trama então começa, diálogos tolos submergem e personagens batidos são interpretados toscamente por atores imaturos. A questão é que o filme nunca engata, envolve ou mistifica. O mistério ta sempre na cara e mesmo quando começam a desvendar os segredos, percebemos que a resolução é a mais típica possível. Para agravar ainda mais a situação, o filme é tão confidente em si mesmo que termina com um nota totalmente em aberta e bem implausível, indicando a possibilidade de uma continuação. Seria, no caso, a próxima chamada perdida enviada pela cidade dos sonhos. Minha sugestão é não atender e esperar que desistem logo de continuar chamando na mesma tecla mórbida, chata e entediante. É hora da reciclagem parar. Uma maquiagem bem feita e medonha funciona apenas até certo ponto. As criaturas toscas e supostamente horripilantes do filme são a exemplificação perfeita de uma falta de criatividade narrativa, compensada por atributos técnicos competentes. O que importa, porém, o filme não tem: atmosfera e clima.

Ainda contando com um olhar terrivelmente simplista da consciência humana e pretensões mal sucedidas em realizar uma crítica à Igreja, o que meramente poderíamos requerer da sessão é o divertimento e, por isso, um suspense eficiente. Mas mesmo com menos de 90 minutos o filme consegue entediar e se tornar incansavelmente bobo e carregado. A trilha sonora sobe, o toquinho de celular domina e aquele "boom!" toma conta da tela, mas mesmo assim o medo está à milhas de distância e nada consegue oferecer nenhum clima de tensão ou suspense. É cinema falhando em seu pior. O visual pode ser arrojado, uma ou outra morte pode ser divertida, mas nos momentos sérios você se pega rindo, e testemunhar as vítimas cuspirem balas gigantes vermelhas logo te deixa impossibilitado de conter o olhar crítico de absurdo e revolta. Não é a pior refilmagem do gênero e nem por isso a última, mas é altamente recomendável uma distância considerável a ser mantida. Hollywood pode não saber produzir bons filmes de terror, mas que sabe promover o medo, já está mais do que certo. (Wally Soares – confira o blog Cine Vita)