Crítica sobre o filme "Ponto de Vista":

Wally Soares
Ponto de Vista Por Wally Soares
| Data: 21/08/2008

Um filme com uma idéia bem legal, mesmo que não original (já foi utilizada em um filme de Akira Kurosawa), oferece uma espécie de refresco à Hollywood atual desgastada e sem graça. Apesar de bem falhado, é incontestável que o filme cumpre o dever de divertir o espectador. E isso hoje já está de bom tamanho. O filme começa mostrando as várias perspectivas dos vários personagens como se fosse em tempo real, em forma de segmentos. Envolve bastante, já que os roteiristas fizeram o favor de deixar algo em aberto no fim de cada segmento, só para deixar todos suspensos. Pena que seja algo já tão comum. Porém, apesar de mostrar essas várias perspectivas e liderar o espectador à um tubo de mistérios, intrigas e suspense, ele pouco satisfaz ao revelar tudo ao final, deixando ponto soltas e, pior, não correpondendo à expectativa que acabamos criando. Ao invés de fazer isso, ele descamba para o que o povão pede, ação e adrenalina. Apesar de ser uma estrada decepcionante em questões de narrativa e expectátiva, pelo menos foi eficiente na forma como foi conduzida. As cenas de ação são boas e conseguem entreter muito bem.

Nesse sentido, é inevitável colocar Ponto de Vista como uma dos primeiros filmes de ação verdadeiramente influenciados pela técnica muito bem sucedida da série Bourne, mais especificamente, O Ultimato Bourne. Não trata-se de uma cópia, ou clone, mas prova da influência da original edição ágil e sensacional da série nos filmes mais atuais do gênero. A técnica se sai bem sucedida, garante cenas de ação exhilirantes e a montagem é realmente muito boa. Compensa, pelo menos, os rumos infelizes da narrativa e a condução dos personagens e seus destinos. A começar pela estúpida sub-trama da garotinha, que é ridícula e corrompe toda a seriedade a qual o filme presava inicialmente. Sem dúvida trata-se dos piores momentos do filme, estes focados no "pânico" da garota e sua influência na trama. Mas o diretor equilibra ao não dar muita atenção ao segmento e por não levar muito a sério os momentos mais politizados. Portanto, o filme é mais descompromisso do que pretensão, e nesse sentido agrada considerávelmente.

O elenco se torna chave no sucesso. Nenhum dos bons (ou ótimos) atores estão em seus melhores dias, isso sem dúvida, mas pelo menos adicionam algo a mais. Gostei bastante de Dennis Quaid, que fugiu do caricato, e Forest Whitaker, que parece impossibilitado de entregar algum desempenho abaixo da média. E tem Matthew Fox. Ao contrário de muitos, observei seu talento desde o ínicio de Lost, e aqui não decepciona, apesar de seu personagem bem comunzinho. A satisfação vem mesmo com os pequenos papéis de William Hurt e Sigourney Weaver, ótimos. O elenco mais estrangeiro e desonhecido não marca, infelizmente. Eles são os olhos, aqueles que oferecem o mistério, o suspense e a criatividade ao filme. Pena que estes olhos apenas vêem. Os personagens são rasos e a quebra de narrativa oferece pouco tempo de convivência com cada para podermos nos identificar mais. Mas estamos em Hollywood! O que importa não é a ação? E a suposta "inovação"?

O filme é, obivamente, problemático ao extremo, principalmente em seu desfecho “feliz” e correto demais. Aquilo passa longe do que aconteceria na realidade. E para um filme que tenta tanto ser realista com seu visual e sua técnica, foi decepcionante. Porém, ao analisarmos sua proposta, é visível que atingiu o esperado, consegue sim entreter, divertir e instigar o espectador, mesmo com todos os risos involuntários ao longo do caminho. Mas chega de implicância. Eu o recomendo mais do que eu esperava recomendar, provavelmente porque, apesar dos defeitos, eu consegui me divertir muito e isto, em se tratando de filmes de ação atuais, é particularmente difícil acontecer, sem contar que é bem curto. Portanto, vejam sem medo, principalmente aqueles que buscam apenas divertimento e nada mais, será satisfação garantida. Só não fiquem pensando muito sobre ele depois, oferecerá um rio de questionamentos infelizmente sem respostas ou sentido. Nem tudo é perfeito né?