Crítica sobre o filme "Ensinando a Viver":

Rubens Ewald Filho
Ensinando a Viver Por Rubens Ewald Filho
| Data: 27/08/2008

Fiquei com a impressão de já ter visto esta história antes, ou uma outra muito parecida. É que o argumento lembra  bastante outros filmes - o próprio John Cusack fez outro pouco antes, onde era um pai que tinha problemas com filhos (no caso, contar que a mãe deles morreu, no ainda inédito “Grace is Goneâ€), e Kevin Spacey, em K-Pax - O Caminho da Luz, onde ele garantia ser um E.T..

Aqui, Cusack é um escritor de ficção-científica, ainda em crise dois anos depois da morte de sua mulher, mas que decide adotar um órfão, que fica a maior parte de seu tempo dentro de uma caixa de papelão porque, sendo de Marte, tem medo de fica exposto ao Sol. E ninguém se dá ao trabalho de afirmar que, em Marte, seria exatamente o oposto. Conquistando a confiança do garoto, lhe dando óculos escuros e protetor solar, o leva para casa, numa fase experimental. A própria Joan Cusack, irmã na vida real do ator, faz o papel da irmã, que é contra a adoção (a atriz está ficando cada vez mais feia, e fora de controle). Ainda mais de alguém tão problemático, que usa pesos (para não ser levado no ar flutuando!) e rouba coisas (coletando objetos, como prova de que esteve na Terra). Os dois vão ficando amigos, através de jogos de beisebol, enquanto John se identifica com o garoto, até porque também vive num mundo de imaginação. Dali em diante, tudo é muito previsível, com a presença da amiga que vira interesse romântico (Amanda Peet), as opiniões dos que acham que o herói não deve sustentar aquelas fantasias (com o velho conflito de conformismo x auto-expressão). Nem se menciona a possibilidade de autismo. Tem até um velho cachorro, que vai acabar como todos terminam no cinema.

Tudo isso é baseado num livro autobiográfico (ou quase) de David Gerrold, e certamente terá mais apelo para os interessados em psicologia infantil, dramas familiares, e o público feminino em geral. Os que preferem ação ou diversão mais ligeira, nem pensar. Tem ao menos um respeitável elenco de apoio (em geral, amigos de John Cusack), e uma sólida presença do duo central. É preciso ter paciência para se envolver num filme sobre amor paternal e crianças problemas.

O diretor foi indicado ao Oscar como roteirista de A Cor Púrpura, que era ainda mais manipulador do que este! Trabalhou antes com John Cusack naquele curioso drama sobre a juventude de Hitler, chamado “Max†(2002). (Rubens Ewald Filho publicado na coluna Clássicos de 6 de junho de 2008)

.

Parece que certos adultos esquecem que já foram crianças um dia. Pelas atitudes que tomam. Ou pior, pelo que acabam fazendo. E aqui, nesse filme, uma dessas coisas estaria em impor um prazo. Prazo? Não. Não para uma dupla que se dispuseram a… a ver se seriam pai e filho!

A vontade em adotar uma criança partiu de um casal. Mas eis que a companheira se foi. Faleceu. Tudo parecia esquecido, ou sepultado, até que por delicadeza… Ou seria o destino? Bem, o lance foi que David (John Cusack) em vez de morrer com aquele assunto por telefone, vai pessoalmente explicar a Diretora do Orfanato (Sophie Okonedo). E por curiosidade, pergunta porque ele fora lembrado, ainda mais sendo um viúvo. Pois deveria ter casais na lista de espera.

Abrindo um parêntese. Em “Juno†temos àqueles que querem adotar uma criança, mas ainda quando bebê. Nesse, a adoção já atinge a crianças mais crescidas. Que já tem consciência do que fazem ali. Sentindo mais a rejeição, o medo, a perda de um carinho, de um lar. Enfim, é um quadro triste, como também cruel com esses inocentes.

Voltando ao filme… David fora lembrado por ser um escritor de ficção científica. Pois o pequeno Dennis (Bobby Coleman) diz ter vindo de Marte. Daí o título original do filme. Embora uma luzinha se acende em David… Ele, recusa. Diz que não está preparado. Acontece que mais alguém quer isso… Gente! Momento lindo esse! Uma amiguinha de orfanato que faz essa ponte entre David e Dennis. Talvez numa de: “Ele tem menos chances que eu em ser adotado.†E consegue que David olhe para o pequeno marciano.

Ao conversar com a irmã (Joan Cusack), mais do que fazê-la acreditar que ele mesmo estando sem uma mulher do lado, ele e o menino serão uma família, fazendo-a lembrar a criança que ele fora, que não se adequava ao grupo, um solitário, reacendendo a sua própria infância, ele se sente, se vê como um pai para o Dennis.

Mas por considerarem Dennis uma criança problemática, David em vez de aliados, tem do Conselho Tutelar uma ducha fria. Eles não facilitam em nada. Então David os convencem ao dizer: “E uma das coisas que eu aprendi sobre fantasia, na minha vida, é que pode ser uma técnica de sobrevivência. Funciona como um mecanismo de fuga, uma maneira de lidar com os problemas que são maiores que você… maiores do que você é capaz de lidar. “

Além dessa vigília em torno dessa adoção, de ter um tempo limite, de ter seu agente lhe dizendo que o prazo para entregar um novo livro está se esgotando, David tem o de chegar ao Dennis. Em estabelecer um contato. Em fazê-lo entender que eles agora serão pai e filho. E que não é nada fácil. Dai, numa cena onde ele recusa a mãozinha de Dennis, a voz do nosso coração pode até não acreditar, mas que a voz da razão, entende o porque.

Enfim, temos nesse filme um homem e um menino num diálogo onde todos os sentidos entram. Numa troca onde tudo é válido. Quer seja assistindo uma partida de baseball, onde diz que mesmo errando muitas vezes, ainda assim terá chances de mostrar o seu valor, que não se deve é desistir. Quer seja usando a linguagem da dança. E mesmo com todas as imposições, eles seguem sem pressa.

Ah! Anjelica Huston faz uma participação para lá de especial. Embora curtinha, marcou presença!

A trilha sonora veio somar na história desses dois. Como nessa música de Cat Stevens, “Don’t Be Shyâ€: “Levante a cabeça e deixa que teus sentimentos saiam… “. Gostei! (Valéria Miguez – confira mais detalhes no blog Cinema é a Minha Praia)