Depois do sucesso grandioso quanto à crÃtica de
Boa Noite e Boa Sorte, a carreira promissora do galã George Clooney como cineasta parecia estar moldada, após o também excelente e talvez até superior
Confissões de uma Mente Perigosa. Mas, após dois dramas sérios, o mais novo projeto do ator como diretor (não saindo, portanto, de frente à s câmeras), é uma comédia leve, descompromissada, bobona e com ares inesperados daquelas comédias exageradas dos anos 50. Talvez longo demais para o que pretende, seu mais novo filme não possui aquela fluidez virtuosa de seus trabalhos anteriores, e nem sequer a originalidade. Ainda assim, garante sorrisos e satisfações. Talvez seja o mÃnimo que poderÃamos ter pedido de um homem que cada vez se torna mais onipresente no mundo de Hollywood, agarrando com unhas e dentes os valores esquecidos de se fazer cinema. Provou isso antes com duas pérolas e apesar das falhas (principalmente de roteiro) de seu novo longa, fica mais que claro a todo o momento que é um exercÃcio competente em cinema, ao menos do ponto de vista técnico e humorÃstico, contendo sagacidade e pitadas de genialidade.
Na trama, seguimos o surgimento do futebol americano e sua transformação no modo de vida americano, pelos olhos do jogador e técnico Dodge (Clooney), suas intrigas emocionais com Lexie (Zellweger) e seu embate com Carter (Krasinski). Os atores adicionam charme o suficiente para tornar todos afáveis e queridos, ao mesmo tempo em que seus carismas juntam-se ao talento inconfundÃvel do trio para formar personagens claramente bons e identificáveis. São o que salvam muitos momentos artificiais pelos diálogos em vezes descartáveis e a também falta de ritmo e foco. Cenas isoladas, porém, vibram diversamente com energia e um humor ótimo, não do tipo baseado em piadas forçadas ou apelativas, mas aquele humor de situação gratificante. Claro, muitas vezes o humor cai no vazio e o máximo que se ouve são grilos cantando, mas é seguro dizer que o filme cumpre seu dever em divertir, mesmo deixando espaços vagos entre o caminho.
Visualmente, o filme é extremamente sofisticado. Possuindo uma fotografia que captura a atmosfera dos anos 20 com valiosa perfeição e autenticidade, agrupada a uma direção de arte primorosamente detalhista. O filme quer mesmo servir de máquina do tempo e te enviar para o modo de se ver e fazer cinema do passado. Desde o inÃcio, que abre com a logo mais antiga da Universal (um globinho dourado pequeno girando) até seus créditos finais inspirados e estilizados, o filme todo inspira pura glória e transmite total nostalgia. Por mais que seja um trabalho pecador em suas derrapadas narrativas e construtivas, ainda é uma jornada gratificante pelo túnel do tempo, utilizando com isso atores tão charmosos como os de antigamente e cenários tão polidos quanto o que deixamos para trás. Clooney quer é nos ensinar que não é preciso deixar isso para trás, e a onda do cinema contemporâneo não precisa residir apenas na constante inovação. Às vezes, como fez no belo preto e branco de
Boa Noite e Boa Sorte, vale a pena olhar para trás e admirar as conquistas e os caminhos por quais percorremos.
Recomendado, é muito provável que o público da mais nova geração torça o nariz grotescamente para os intuitos de Clooney e companhia, mas para todos aqueles que se divertem vendo cinema sendo bem arquitetado, que confiram à obra falha, mas ultrajante, deslocada, mas exemplar, irregular, mas contundente. O filme tem seus méritos e por isso, merece seus créditos. Portanto, entrem no clima, curtem a música, admirem os visuais e entrem no jogo dos atores, que parecem se divertir muito em cena, incluindo um Clooney totalmente despojado e mais solto do que nunca, em contrapartida à personagem tÃpica de Zellweger. Krasinski, porém, se mostra um talento cada vez mais merecedor de atenção. Por essas e outras, um bom filme que merece uma olhada.
(Wally Soares – confira o blog Cine Vita)