Não é uma boa temporada para filmes de suspense: os roteiros são inconvincentes e, por vezes, ridÃculos, como é o caso deste thriller, dirigido por um certo inglês chamado Mike Barker (fez filmes como Morte ao Rei e Planos Quase Perfeitos, que francamente não ficaram na minha memória). A partir de um roteiro de William Morissey (ele também aparece como co-produtor, junto com o astro Pierce Brosnan), conta a história de um seqüestro que pretende estar cheio de surpresas.
Depois de deixar de ser James Bond, Pierce tem até convencido na figura de vilão, com barba por fazer, já grisalho. Mas o problema maior do filme é o escocês Gerard Butler, que parecia tão promissor em 300, mas que se perde aqui, em cenas exageradamente dramáticas, onde demonstra suas limitações. Parte da culpa é do próprio roteiro, que cai no absurdo. Aquele publicitário bem sucedido, que fez trapaças para subir na vida e enfrenta clientes, é absolutamente cool, e não perderia o controle, agindo como uma donzela assustada numa situação de perigo. Mas esse é só um dos muitos problemas do filme.
Gerard faz Neil, casado com Abby (Maria Bello), que são pais de uma menina. Estão muito bem de vida, e vão visitar o patrão dele, numa casa no campo. Só que entra no carro um assaltante, que faz chantagem com o casal, porque tem no poder a filha deles (a babá seria cúmplice dele). É uma longa viagem pela cidade, desmascarando Neil e queimando todo o dinheiro dele, enquanto Abby segura tudo, com coragem, até um final que não é muito difÃcil de imaginar, já que exagera dos clichês e absurdos (já que vários aspectos do plano seriam imprevisÃveis, e dependeriam do comportamento de Neil). Além disso, essas histórias de seqüestros relâmpagos, ou semelhantes, deixam um sabor amargo na boca do espectador; são próximas demais da nossa realidade.
O filme vem na linha de Celular e semelhantes. Tem jeito de filme para ser lançado no mercado internacional (nos EUA saiu direto em TV), e DVD é o seu real destino. (Rubens Ewald Filho na coluna Clássicos de 12 de maio de 2008)
.Embora rodado com capitais canadenses e ingleses, Encurralados (Shattered; 2007), dirigido por Mike Barker, é um tÃpico suspense hollywoodiano, em sua utilização primária de um roteiro cinematográfico abarrotado de clichês e na maneira bastante óbvia com que manipula os sentimentos-padrão da platéia; assim como a personagem neuroticamente megalômana de Pierce Brosnan dirige mecanicamente as emoções da criatura de Gerald Butler, assim o diretor-artesão age para com o público. É um autêntico processo de emburrecimento do espectador, veloz e inexorável, para usar de dois adjetivos-relógio tão embrutecidos quanto o ato de ver este filme.
Piercer Brosnan está mais canastrão do que nunca como o vilão psicopata que seqüestra o casal vivido por Gerald Butler e Maria Bello, outros dois intérpretes sofrÃveis neste filme ao menos, e o que parece no inÃcio um caso de vingança por questões de trabalho vai revelar-se uma ira conjugal em face do adultério duplo. A figura da garotinha aparentemente mantida como refém é um expletivo frágil na narrativa e só funciona como suspense (ainda que primário) no inÃcio. Todos os velhos e gastos truques de suspense são usados por Barker sem qualquer sopro de personalidade; e o olhar moralista que se abate sobre os casos de adultério é inevitavelmente constrangedor.
Se a obra-prima Um beijo roubado (2007), rodado nos Estados Unidos pelo chinês Wong Kar-Wai, foi equivocadamente confundida com um melodrama hollywoodiano pelos mÃopes de plantão da praça, quando na verdade se trata da plena sensibilidade da estética do amor, Encurralados é sim um hollywoodianismo de incrÃvel superficialidade, a despeito de suas abstrações de cenários e origens formais. (Eron Fagundes)