O que atrapalha o cinema em Um amor para toda a vida (Closing the ring; 2008) é o esclerosado academicismo de filmar do realizador inglês Richard Attenborough. Buscando contar uma história de amor que evoca os tempos da II Guerra Mundial, Attenborough está longe da sensibilidade e das emoções despertadas por Desejo e reparação (2007), de Joe Wright, um dos destaques da temporada de cinema em Porto Alegre; a moeda emocional que o cineasta britânico vende com seu filme é barata demais e as cenas são montadas e juntadas de maneira esquemática, quadradona.
Um amor para toda a vida executa idas e vindas do passado ao presente tentando dar um charme diferente a seu pastoso classicismo formal, mas os jogos entre passado e presente são duros e primários para dar qualquer sopro vital à narrativa. O amor neuroticamente parado no tempo da protagonista não rende ao diretor algo mais que um melodrama incomodamente choroso e superficial; como estamos distantes das autênticas emoções do grande cinema! Uma velha recorda seu amor eterno a um jovem pouco antes de estourar a guerra e devora sua mente lembrando a morte dele quando seu avião caiu, esta velha, que hoje tem uma filha com quem se relaciona com dificuldade e remói insistentemente seu antigo amor e os amigos do passado, é tudo que Attenborough põe desajeitadamente em cena para tentar conquistar o observador. É bem verdade que a magnÃfica atriz norte-americana Shirley MacLaine (que estreou no cinema aos vinte anos de idade em O terceiro tiro, 1955, de Alfred Hitchcock) é uma persona fÃlmica acima de qualquer mau filme; mas Um amor para toda a vida é de fato inconvincente. (Eron Fagundes)
.Aos 84 anos, Sir Richard Attenborough recusa-se a aposentar-se, e insiste em mais este filme, um romance em dois tempos: a Segunda Guerra Mundial em Belfast, no auge do conflito entre irlandeses e ingleses, e em 1991, no interior dos EUA, em Michigan. Foi escrito por Peter Woodward, o mesmo de A Lenda do Tesouro Perdido: Livro dos Segredos, O Patriota e séries de TV, e não foi adaptado de uma novela, como pode parecer. Apesar de trazer, sem roupa, Mischa Barton, que ficou famosa na série de TV The O.C., o filme não teve impacto no exterior, e por uma boa razão: é extremamente antiquado, quase vestuto (para usar uma palavra divertida).
A história começa com Shirley MacLaine (que faz Mischa velha, por mais estranho que pareça), no funeral do marido de muitos anos. Tudo indica que ela é uma chata, que não gosta de nada, que vive no passado, descuidando dos filhos (em particular da filha, feita por Neve Campbell que, por causa disso, é toda revoltada), e incapaz de demonstrar qualquer emoção, a não ser resmungar que ele foi um bom marido, cuidou dela, etc. e tal. A seu lado, ela tem um velho amigo, feito por Christopher Plummer (A Noviça Rebelde). Aos poucos, entram os flashbacks que estabelecem a trama central.
Quase 40 anos antes, durante a Segunda Guerra, o falecido tinha dois amigos inseparáveis, os três pilotos, que lutavam em missões a partir da Inglaterra. Todos apaixonados pela mesma mulher, Ethel Ann (Mischa Barton), que somente tinha, porém, olhos para um deles, justamente o mais bonito, um loiro chamado Teddy Gordon (Stephen Amell que, se tivesse talento, a esta altura já seria um astro e capa da revista People). Foi um grande amor, vivido intensamente, mas interrompido por um fato trágico: o rapaz morreu numa missão de guerra, quando o avião deles caiu numa montanha, perto de Belfast. Isso finalmente ajuda a entender porque estamos tendo uma terceira história paralela, com um rapaz simplório, mexendo nessa montanha (que, para complicar, serve para a Máfia local enterrar seus ‘presuntos’), e que aos poucos começa a desenterrar artefatos do passado. Aliás, nesse grupo, estão também dois atores ilustres: Pete Postlethwaite e Brenda Fricker, que ganhou um Oscar® de Coadjuvante por Meu Pé Esquerdo. Naturalmente, há segredos enterrados, e outros esquecidos, que vão sendo desvendados bem devagar com conflitos entre Ethel e a filha, Marie, indo para Belfast.
Shirley faz sua cara de mal humorada - ou chata - permanente, enquanto Mischa deixa de registrar, na sua primeira grande chance de mudar de categoria. Logicamente, tem revelações, reviravoltas, mas nada muito importante ou notável. Mas que vamos evitar tocar.