Crítica sobre o filme "Amor Para Toda a Vida, Um":

Rubens Ewald Filho
Amor Para Toda a Vida, Um Por Rubens Ewald Filho
| Data: 12/09/2008

O que atrapalha o cinema em Um amor para toda a vida (Closing the ring; 2008) é o esclerosado academicismo de filmar do realizador inglês Richard Attenborough. Buscando contar uma história de amor que evoca os tempos da II Guerra Mundial, Attenborough está longe da sensibilidade e das emoções despertadas por Desejo e reparação (2007), de Joe Wright, um dos destaques da temporada de cinema em Porto Alegre; a moeda emocional que o cineasta britânico vende com seu filme é barata demais e as cenas são montadas e juntadas de maneira esquemática, quadradona.

Um amor para toda a vida executa idas e vindas do passado ao presente tentando dar um charme diferente a seu pastoso classicismo formal, mas os jogos entre passado e presente são duros e primários para dar qualquer sopro vital à narrativa. O amor neuroticamente parado no tempo da protagonista não rende ao diretor algo mais que um melodrama incomodamente choroso e superficial; como estamos distantes das autênticas emoções do grande cinema! Uma velha recorda seu amor eterno a um jovem pouco antes de estourar a guerra e devora sua mente lembrando a morte dele quando seu avião caiu, esta velha, que hoje tem uma filha com quem se relaciona com dificuldade e remói insistentemente seu antigo amor e os amigos do passado, é tudo que Attenborough põe desajeitadamente em cena para tentar conquistar o observador. É bem verdade que a magnífica atriz norte-americana Shirley MacLaine (que estreou no cinema aos vinte anos de idade em O terceiro tiro, 1955, de Alfred Hitchcock) é uma persona fílmica acima de qualquer mau filme; mas Um amor para toda a vida é de fato inconvincente. (Eron Fagundes)

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Aos 84 anos, Sir Richard Attenborough recusa-se a aposentar-se, e insiste em mais este filme, um romance em dois tempos: a Segunda Guerra Mundial em Belfast, no auge do conflito entre irlandeses e ingleses, e em 1991, no interior dos EUA, em Michigan. Foi escrito por Peter Woodward, o mesmo de A Lenda do Tesouro Perdido: Livro dos Segredos, O Patriota e séries de TV, e não foi adaptado de uma novela, como pode parecer. Apesar de trazer, sem roupa, Mischa Barton, que ficou famosa na série de TV The O.C., o filme não teve impacto no exterior, e por uma boa razão: é extremamente antiquado, quase vestuto (para usar uma palavra divertida).

A história começa com Shirley MacLaine (que faz Mischa velha, por mais estranho que pareça), no funeral do marido de muitos anos. Tudo indica que ela é uma chata, que não gosta de nada, que vive no passado, descuidando dos filhos (em particular da filha, feita por Neve Campbell que, por causa disso, é toda revoltada), e incapaz de demonstrar qualquer emoção, a não ser resmungar que ele foi um bom marido, cuidou dela, etc. e tal. A seu lado, ela tem um velho amigo, feito por Christopher Plummer (A Noviça Rebelde). Aos poucos, entram os flashbacks que estabelecem a trama central.

Quase 40 anos antes, durante a Segunda Guerra, o falecido tinha dois amigos inseparáveis, os três pilotos, que lutavam em missões a partir da Inglaterra. Todos apaixonados pela mesma mulher, Ethel Ann (Mischa Barton), que somente tinha, porém, olhos para um deles, justamente o mais bonito, um loiro chamado Teddy Gordon (Stephen Amell que, se tivesse talento, a esta altura já seria um astro e capa da revista People). Foi um grande amor, vivido intensamente, mas interrompido por um fato trágico: o rapaz morreu numa missão de guerra, quando o avião deles caiu numa montanha, perto de Belfast. Isso finalmente ajuda a entender porque estamos tendo uma terceira história paralela, com um rapaz simplório, mexendo nessa montanha (que, para complicar, serve para a Máfia local enterrar seus ‘presuntos’), e que aos poucos começa a desenterrar artefatos do passado. Aliás, nesse grupo, estão também dois atores ilustres: Pete Postlethwaite e Brenda Fricker, que ganhou um Oscar® de Coadjuvante por Meu Pé Esquerdo. Naturalmente, há segredos enterrados, e outros esquecidos, que vão sendo desvendados bem devagar com conflitos entre Ethel e a filha, Marie, indo para Belfast.

Shirley faz sua cara de mal humorada - ou chata - permanente, enquanto Mischa deixa de registrar, na sua primeira grande chance de mudar de categoria. Logicamente, tem revelações, reviravoltas, mas nada muito importante ou notável. Mas que vamos evitar tocar.

Embora com uma produção decente, o filme é banal demais para nos emocionar. (Rubens Ewald Filho na coluna Clássicos de 20 de junho de 2008)