Crítica sobre o filme "Efeito Dominó":

Rubens Ewald Filho
Efeito Dominó Por Rubens Ewald Filho
| Data: 18/09/2008

O australiano Roger Donaldson roda um habitual filme de roubo em Efeito dominó (The bank job; 2008), cujo roteiro foi extraído da crônica policial londrina do início dos anos 70. Donaldson, seguindo as regras de ação e tensão do cinema comercial, encarcera suas situações e suas personagens numa narrativa-clichê, excessivamente nos trilhos de manter aceso o interesse do espectador habitual para uma história já vista e sem ousar qualquer desvio de linha que pudesse  atrapalhar esta atenção dirigida do observador. Assim preso às suas regrinhas de corte e montagem, Efeito dominó não tem, por exemplo, o frescor natural de Assalto ao trem pagador (1962), do brasileiro Roberto Faria, onde uma história de roubo e o posterior desenvolvimento das vidas dos ladrões tinham um corte policial mas nunca se amarravam demasiadamente à narrativa de gênero.

Donaldson é um artesão competente, mas esta condição não foi suficiente para que ele fizesse bons filmes ao longo dos anos. Seu trabalho mais evocado é Marie, uma história verdadeira (1985), com Sissy Spacek à frente do elenco, onde ele articulava um bem feito mas superficial e impotente policial político de denúncia à corrupção social, política ou policial. Em Efeito dominó a ação do roubo e o salvar a pele dos protagonistas domina o primeiro plano narrativo; mas Donaldson enxerta questões dos poderosos corrompidos, os figurões envolvidos em falcatruas de tráfico e sexuais, os policiais comprados. Deixando para a sombra a opção de um filme-denúncia, o que o cineasta propõe é um entretenimento rasteiro, fácil de acompanhar, mas que de maneira alguma pode equiparar-se aos melhores policiais de roubo da história do cinema. (Eron Fagundes)

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Confundi este filme com uma mera aventura de ação. Erro meu. Este é bom drama policial, baseado em fatos reais (isso até consta dos letreiros originais), com diretor competente (o australiano Roger Donaldson, que fez bons thrillers como Sem Saída, Treze Dias que Abalaram o Mundo, O Novato, A Fuga) e uma dupla famosa de roteiristas ingleses, Dick Clement e Ian Le Fresnais (mais de 50 trabalhos, que vão da história de Across the Universe, roteiros de Ainda Muito Loucos, Por Ãgua Abaixo, The Commitments). E, para quem curte o gênero, é obrigatório.

Confesso que não conhecia essa história, sobre um ousado assalto em 1971, quando entraram subterraneamente dentro da caixa forte de um banco e roubaram as caixas de depósito (safe deposit box), porque estavam procurando por fotos comprometedoras de pessoas muito, mas muito, importantes. Teria sido um trabalho incitado pelo Serviço Secreto, que conseguiu que um bando fizesse a proeza (como os autores nunca foram indiciados ou identificados, o roteiro pode inventar um pouco. Mas todo o resto é real, por mais louco que pareça. E foi o maior roubo da história da Inglaterra, maior até do que o famoso assalto ao trem).

O que poderia ficar confuso, dado o grande número de personagens, acaba funcionando, porque todos conseguem ter uma individualidade marcante, dos dois lados da lei. Sempre com senso de humor. Com a ajuda de excelentes atores ingleses (mesmo quando não sabemos os nomes), o filme mantém o interesse até o desfecho, satisfatório. Jason Statham continua convencendo, com sua careca, seu jeito masculino e discreto. A mocinha é a bela Saffron Burrows.

Não quero revelar mais detalhes da trama, mas recomendo mais cuidado no uso de walkie talkies! (Rubens Ewald Filho na coluna Clássicos de 20 de maio de 2008)