Não gosto de ler nada sobre a história dos filmes antes de assisti-los, e abomino a prática dos blogs e sites de insistirem em contar detalhes do enredo, antes dele estrear. É puro estraga-prazer, por vezes atrapalhando, e até destruindo, a graça de se descobrir, na sala escura do cinema, as surpresas e reviravoltas das tramas dos filmes. Portanto, se você pretende ver o novo (e quarto) “Indiana Jones”, já vou informando que o filme é ótimo, divertido, movimentado, cheio de ação, auto-referente (lembra todos os anteriores e abre caminho para futuras continuações), e toma todas as decisões corretas.
Embarquei de cabeça e me diverti completamente, como os autores pretendiam, como se estivesse numa matiné dos meus tempos de criança (a diferença era o saco de pipoca, que naquele tempo era proibido!).
Spoilers - Deixe o resto para ler depois de ver o filme, já que não posso deixar de comentar alguns detalhes.
Não é nada constrangedor ver Harrison Ford, aos 65 anos, voltar a fazer um filme de ação. Embora tudo seja levado com bastante humor, ele luta, briga, apanha, dá socos, sem nunca parecer ridículo ou obsoleto (nem mesmo a ocasional substituição por um dublê, em cenas mais perigosas, chega a atrapalhar). Defende com galhardia o personagem de Indiana Jones, agora em 1957, nos EUA de Eisenhower, onde a ameaça dos comunistas soviéticos está deixando todo mundo paranóico, chegando a lhe custar o emprego de professor universitário.
O filme começa com uma citação de American Graffiti, com um racha no deserto, e uma surpresa, quando ele se vê no meio de uma explosão nuclear (depois disso, já se sabe que ele é capaz de sobreviver a tudo!). Os inimigos logo se revelam: a vilã é uma russa ucraniana que, deseja ter poderes paranormais e lembra as bandidas de antigamente, quando elas não tinham qualquer sentimento redentor. Irina Spalko é pérfida assumida e, em momento algum cai na caricatura, graças à presença carismática de Cate Blanchett. Ela quer algo de Indiana e fará tudo para conseguir, inclusive subornar um antigo amigo que virou traidor (Ray Winstone, como Mac). E começam as referências: ao Caso Roswell, ao próprio Caçadores da Arca Perdida, a aqueles antigos filmes de testes da bomba atômica e, mais tarde, de Contatos Imediatos, ET, Tarzan, O Selvagem da Motocicleta, de Marlon Brando (Shia é motoqueiro), musicais de Elvis Presley e, naturalmente, aos antigos seriados dos anos 30 e 40.
Sabe-se que custaram a fazer essa continuação (dá para acreditar que já se passaram 19 anos desde o ultimo episódio! Foi em 1989. Credo, como o tempo passa...) porque não gostaram - melhor dizendo, o produtor George Lucas não gostou - dos roteiros escritos por M. Night Shyamalan, Tom Stoppard e Frank Darabont (que diziam ser muito bom). Quem acabou acertando foi David Koepp (Zathura, Guerra dos Mundos, Homem-Aranha, Quarto do Pânico). Sua solução foi contar com a cumplicidade da platéia, que percebe e entende as referências (o medo de cobras, Indiana tentando usar o revólver, como no primeiro filme, e assim por diante).
Infelizmente, a própria escalação do elenco já revela uma novidade, nada surpreendente. Retorna Karen Allen, que foi a namorada de Indiana - Marion Ravewood -, no primeiro filme. E como ela tem um filho jovem/adulto (Shia) não é difícil matar a charada. De qualquer forma, esse relacionamento acaba dando charme e humor ao filme, e parece ser a base de uma futura continuação (ao que parece, Indiana ainda não está disposto a passar o chapéu).
Não espere muita verossimilhança na aventura. Pelo filme, as cataratas do Iguaçu (nunca mencionadas, mas parte importante na história) ficam no meio da selva amazônica. Mas, para que serve um velho túmulo, cheio de riquezas, a não ser para desmoronar, provocando uma fuga desesperada? Todos os clichês - ou momentos clássicos, se preferirem - estão presentes e ainda funcionam. Porque a gente já entra no cinema disposto a curtir, torcer e vibrar com as façanhas rocambolescas do velho herói.
Alguns reclamaram do filme invocar temas que parecem saídos de “Eram os Deuses Astronautas?”. Mas achei muito lógico porque, afinal de contas, é um filme de Spielberg, o cara que praticamente inventou o gênero de fantasia com ET e, antes dele, Contatos Imediatos.
Sabe-se também que Sean Connery se recusou a sair da aposentadoria, para reviver o personagem do pai de Indiana, que no filme é dado como morto, assim como o Dr. Marcus Brody - embora, nesse caso, Denholm Elliott, o ator que o interpretou, tenha realmente falecido. De qualquer forma, é uma homenagem adequada. Como o fotógrafo dos três filmes anteriores, Douglas Slocombe, já faleceu também, o sucessor, Janus Kaminzki, que tem feito os filmes recentes de Spielberg, procurou imitar seu estilo de iluminação, que lembra as antigas histórias em quadrinhos. Por isso não quis usar a técnica digital, profetizada pelo produtor Lucas.
São detalhes que ajudam a apreciar melhor o filme - que continua contando com a trilha musical de John Williams - que não fica nada a dever aos anteriores. (Rubens Ewald Filho na coluna Clássicos de 23 de maio de 2008)
. Deixe Ben Gates para a nova geração. Quem gosta de bom cinema ou ainda gosta de viver no passado está destinado a encontrar na nova aventura de Steven Spielberg exatamente o entretenimento que faltava o ano todo. Resgatando um clima genuÃno do passado, o longa é pura nostálgia, feito como um grande presente para os fãs do herói, mas ainda assim arquitetado para conectar-se com a nova geração. É onde encontra um de seus defeitos. Um aspecto sempre louvável na série era a predominança de efeitos visuais sobre os especiais. No novo filme, os efeitos digitais atingem o extremo e deixam certos momentos artificiais. Mas o que o longa perde nisso, ele ganha em dobro com a inventividade extensa proposta pelo diretor e que o rodeia a cada minuto do filme, que é simplesmente exhilirante. É um exemplo concreto do que é necessário para se fazer escapismo perfeito, contando não só com ação, aventura, suspense e mistério, mas um recheio delicioso de humor. A cena inicial é impecável. Propondo exatamente o que está por vir, Spielberg, em meio a movimentos de câmera ousados e excepcionais, utiliza uma fotografia excelente, uma montagem ágil e uma trilha sonora incrÃvel para ilustrar com dignidade não só a época na qual o filme se passará (e o mundo no qual estamos entrando) mas nos levando diretamente para um passado onde até os filmes mais caça-nÃques possuiam cenas extremamente bem arquitetadas. É divertido, energético e é impossÃvel resistir. Principalmente quando somos introduzidos, de uma forma bem nostálgica e primorosa, ao Indiana Jones mais velho. Harrison Ford, mesmo sem aquela energia e aquele charme, demonstra habilidade com carisma e funciona muito bem na pele do herói, como se ainda o estivesse personificando 20 anos atrás. Ao seu lado, um elenco sensacional. Destaco Shia LaBeaouf, um ator que vem demonstrando talento a cada curva em Hollywood e com muito charme faz de seu personagem um dos triunfos no filme, como também Cate Blanchett, que com sua personagem fria pode incomodar bastante pessoas e ganhar até algumas crÃticas injustas, visto que, tão imersa na personagem, está extremamente calculista. O resto do elenco não decepciona, sejam eles os velhos da série ou as novas inclusões. Talvez o que mais te cativa no filme seja o clima de escapismo interminável, que culmina em pelo menos duas seqüencias de ação grandiosas e estupendas. Ficou tudo bem eqüilibrado por uma trama plausÃvel e bem trabalhada, mesmo que o roteiro em sà seja bem falho, salvam-se os diálogos geniais. Damos importância a isso, porém, até a metade. Após isso, somos tão imersos em ação e adrenalina que a diversão acaba falando (ou gritando, nesse caso) mais alta. Nesse meio, testemunhas a já comentada parte técnica perfeita, seja a fotografia sempre sublime ou a montagem sempre eficiente, a trilha sonora de John Williams completamente primorosa e os efeitos que, apesar de traÃrem um pouco o espÃrito da série, estão impecáveis. Não guardei muito rancor com essa traição porque acredito ter entendido as intenções de Spielberg que, ao criar a possÃvelmente última entrada definitiva na série, queria fechar da forma mais viva e ultrajante possÃvel. O resultado é o filme mais exagerado, louco, selvagem e energético da série, possuindo uma exuberância gostosa além do comum. Trata-se, na verdade, da junção perfeita de todos os três primeiros filmes da série. Temos o clima romântico do primeiro, com a volta recompensadora de Karen Allen (e um elemento esquecido pelas duas sequências), o humor acentuado e a o escapismo mágico elevado do segundo filme, e a relação ótima entre pai e filho que permeia todo o terceiro filme tão bem. A diferença aqui é que Indiana já está velho, não é mais o filho, mas o pai. Cinema grandioso e bem arquitetado, entretenimento audaz e impressionante, o filme é pura aventura, imaginação e magia, sobrevivendo na Hollywood atual sem alma, conquistando o espectador com seu senso mágico e seu coração luminoso. O filme foi feito com diversão e paixão, e é exatamente isso que sentimos ao assistÃ-lo. Um esforço muito bem-vindo de todos, e um longa para se, felizmente, ser posto dignamente ao lado de todos os outros filmes tão bons da série tão maravilhosa. (Wally Soares – confira o blog Cine Vita)